segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Reencontrando a Felicidade", 2010: inteligentemente austero



"Reencontrando a Felicidade" (Rabbit Hole) [EUA] , 2010 - 99 minutos Drama Direção: John Cameron Mitchell Roteiro: David Lindsay-Abaire Elenco: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Miles Teller, Dianne Wiest, Sandra Oh, Tammy Blanchard


Confesso que estava receioso de assistir a esta produção. O nome em português e a sinopse oficial realmente não animam, principalmente quando se diz que o pano de fundo é devido a morte de uma criança. Seja a tragédia familiar em si, seja o olhar sobre a depressão que vem depois, nenhum desses me apetecem.


Becca (Kidman) e Howie (Eckhart) ainda estão em luto, pois não faz oito meses da morte de seu filho. E cada um aparentemente lida com a perda de maneira completamente oposta um ao outro. Enquanto Becca busca sublimar um pouco de sua dor, Howie tenta compartilha-la. E assim, o filme demonstra a dura batalha em se construir a vida após tamanha perda.


Quando nos perguntamos o motivo do nome original ser "o buraco do coelho", vemos que o filme vai muito mais além do que uma abordagem acerca da difícil busca por felicidade após um trauma. Primeiramente, quando imaginamos um filme sobre pessoas depressivas o visualisamos em um ambiente sombril. Logo de início, a primeira cena do filme se dá em um amplo jardim, com Becca empenhada em cuidar de suas plantas. Nesse momento, tudo é muito tátil até que a vizinha, em um ato de compaixão, convida Becca para um jantar. Sem querer, a pobre vizinha pisa em uma das flores e provoca uma constrangedora situação. Eis a tônica do filme: tão somente quem está de luto construirá seu próprio caminho para sair dele. E qualquer tentativa, mesmo as mais clichês como um jantar de compaixão, um churrasco em família, tentativa de ter novos filhos, ou ainda as famosas terapias de grupo.


É uma abordagem muito sóbria, austera, que aborda não a perda, mas o luto - ou melhor, o caminho para sair dele. Como não poderia ser diferente, é um filme emocional, mas que se recusa a ser intenso na tragédia - e que todos os atores, principalmente Kidman e Wiest estão espetaculares. Um retrato honesto do luto, que definitivamente não se aparenta em nada aos dramalhões que vemos nas novelas globais e também nas mexicanas. A montanha-russa de sentimentos e que se está envolta a uma densa núvem de incertezas e ansiedades está no filme em todos os aspectos, sem apelações alguma.


Entre a negação e a busca de um sentido para a morte de quem amamos (segundo Kubler-Ross e a veneração que os estadunidenses possuem por este tipo de estudo), Becca rejeita absolutamente todos, principalmente o sentido religioso. É no reencontro com o algoz de seu filho, Jason (Teller), que ela vai encontrando na dor de quem acidentalmente provocou toda a sua tragédia que ela vai encontrar algum sentido. E assim, talvez, concretizar sua saída do luto.Um filme que trata o luto de maneira honesta, de muito bom gosto. E o mais impressionante: sensibiliza-nos e nos emociona sem fazermos sofrer ainda mais com a tragédia.


Ósculos e amplexos!

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