segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Heroi", 2002: nenhum soco sequer é gratuito.



"Herói" (Ying xiong) [China], 2002 Drama/Épico - 96 min. Direção: Zhang Yimou Roteiro: Zhang Yimou, Li Feng, Wang Bin Elenco: Jet Li, Tony Leung Chiu-Wai, Maggie Cheung Man-Yuk, Zhang Ziyi, Chen Dao Ming, Donnie Yen



Um dos primeiros desafios para quem for assistir "Herói" é se despir da ideia de que um filme com Jet Li sempre é pura pancadaria e pouca história. Por isso, decepcionará quem o assistir querendo ver apenas ação e pancadaria. "Herói" é um filme com Jet Li em que nenhum soco qualquer é gratuito, há uma história, e o visual é digno de contemplação.

O filme inteiro se passa ao longo do diálogo entre um guerreiro sem nome (Jet Li) e o rei da província de Qyn
(Daoming Chen). O guerreiro sem nome obteve, como recompensa tesouros e o direito de se aproximar do soberano por ter matado Espada Quebrada (Tony Leung Chiu Wai), Céu (Donnie Yen) e Neve Voadora (Maggie Cheung) - guerreiros da província de Zhan que por muito pouco não mataram o rei de Qyn. Na medida em que o rei questiona um determinado fato, o guerreiro sem nome revisa suas declarações e assume uma nova abordagem.

No prelúdio, uma importante citação: em uma guerra há herois em ambos os lados. No sonho do soberano de Qyn pela unificação da China reside o mesmo sonho de todas as outras províncias: assegurar a paz. Tais elementos são apresentados por um diálogo austero entre o guerreiro sem nome e o soberano de Qyn. Em cada parte do relato, as cores vão dominando a cena e apresentando o estado de humor do contador da história e de seus personagens. Os golpes e a luta, bem como inúmeros elementos simbólicos da cultura chinesa e da cultura envolta nas história de artes marciais "wuxias". Cada detalhe é entalhado no filme com precisão de um calígrafo - referência importante para a beleza do filme e também para a história narrada.

Tão somente a crítica chinesa não gostou do filme. Segundo eles, a história é carregada de uma concepção pró-monarquia de paz do qual tão somente a revolução maoísta foi capaz de construir. Ou seja, há elementos imperialistas, beirando o fascismo nacionalista, por demais. Enfim, quando se mete em política, o filme acaba sendo uma propaganda anti-socialista e reverenciando um perigoso passado de sacrifícios em nome da terra e seu soberano. O curioso é que o filme não foi proibido e foi recordista de público em toda a China. Para a maioria dos críticos ao redor do mundo, o filme agrada e muito - principalmente pela sua estética.

O filme é agradável aos olhos e de uma narrativa suave, ainda que seja em meio à batalhas e confrontos mortais. É dotado de imensa inteligência ao trabalhar a ambiguidade que envolve a narrativa do guerreiro sem nome, sem adiantar nenhuma das viradas que a história vai enfrentando. A interpretação dos atores em meio a tantas expressões austeras é surpreendente. A trilha sonora é bem escolhida, expressando não apenas as emoções da tela como também a mensagem que o diretor tenta passar e não consegue visualmente.

No fim das contas, acaba se tornando um filme de dimensões épicas em meio aos exageros dos filmes de luta - todos buscando o impacto e a beleza visual, portanto perdoados. Cansa um pouco tantos significados para um código de honra da luta, mas que não prejudica o filme e sua narrativa em nada. Um filme muito bom.

Ósculos e amplexos!

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