segunda-feira, 16 de maio de 2011

"O Mágico", 2010: complexo, apesar da simples narrativa.



"O Mágico" (L'Illusionniste) [França / Reino Unido], 2010 - 90 minutos Animação / Comédia / Drama Direção: Sylvain Chomet Roteiro: Sylvain Chomet, Jacques Tati

Foi quando Tatischeff entrou no cinema e viu uma cena de "Mon Oncle", 1953, foi que percebi a homenagem à Jacques Tati. Até então, eu estava buscando desesperadamente me acostumar com o ritmo absurdamente lento que Chomet tem como marca (lembram-se de As Bicicletas de Belleville, 2003 ?). Neste exato momento, quase se encaminhando ao fim do filme, é que pude perceber duas coisas: primeiro, as pessoas continuam achando que animação é coisa para criança e, segundo, mesmo percebendo que não se trata de uma atração infantil insistem em manter as crianças na sala. Pobres crianças, foram apresentadas a um universo triste, melancólico, do qual elas mesmas são antagonistas.

O filme apresenta a melancólica vida de Tatischeff, ilusionista em decadência que vê a velha arte sendo substituída por atrações mais joviais. Ele vai perdendo espaço para atrações como bandas de rock em uma Europa pós-guerra. Após aceitar o convite de um bêbado, aparentemente o único a gostar de sua apresentação em Londres, o mágico vai para uma pequena cidade na Escócia onde se apresentará em uma taberna. Lá ele conhece Alice, que ao ver a dura condição de vida da menina, lhe compra sapatos novos. A partir de então Alice se encanta com Tatischeff e foge para acompanhá-lo em sua miserável turnê. Tatischeff não quer estragar a crença que Alice possui nele, e juntos vão morar em Edimburgo - cidade da qual nunca o tempo passa. Já nessa cidade, vão viver entre outros artistas de antigamente em um hotel de frente ao Teatro. Mas Tatischeff tem que assumir novos empregos e aceitar apresentações em lugares cada vez menos glamurosos a fim de sustentar a magia pela qual Alice tanto acredita.

O encontro entre Tati e Chomet é lindo, apesar de muito, mas muito lento. Todo pintado à mão, possui uma qualidade gráfica que nos enche os olhos. Aos poucos, Londres, Paris, Edimburgo vão se tornando lugares comuns a nós. Há críticas sociais em pequenos frascos semióticos como a representação do consumismo nas apresentações do mágico em vitrines. E, mesmo que sejam três idiomas (francês, galês, e inglês), não há legenda - e sinceramente não há a menor necessidade delas. Vamos mergulhando em uma tristeza sem fim, vamos assistindo a velha arte sendo enviada para a sarjeta. Um filme complexo, apesar da sua simples narrativa.

Ósculos e amplexos!

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