terça-feira, 31 de maio de 2011

"O Poder e a Lei", 2011: seu enredo o faz ser um filme satisfatório.



"O Poder e a Lei" (The Lincoln Lawyer ) [EUA] , 2011 - 118 minutos Policial Direção: Brad Furman Roteiro: John Romano, Michael Connelly Elenco: Matthew McConaughey, Ryan Phillippe, Marisa Tomei, John Leguizamo, William H. Macy, Josh Lucas, Michael Peña, Bryan Cranston, Frances Fisher, Shea Whigham, Margarita Levieva


Que boa surpresa ver um filme abrindo mão de seu principal trunfo logo depois de 1/4 de sua exibição. Tive a sensação de que houve uma troca de damas logo no início da partida de xadrez. Destemido, o roteiro vai nos dando reviravoltas e mais reviravoltas. E quando menos percebemos, somos surpreendidos inteligentemente a cada momento.


Mick Haller (McConaughey) é um advogado "porta-de-cadeia" bastante caricato. Seu escritório é dentro de um carro Ford Lincoln e seus clientes lhe contratam para defendê-los diante de tribunais penais. Mas, como advogado porta-de-cadeia que é, sua filosofia é: mais vale um culpado solto que um inocente preso, portanto, todos devem ser defendidos e inocentados. Porém, seus poucos valores, sua forma de atuar e até mesmo a segurança de sua família serão todos abalados diante do caso de um jovem playboy, Roulet (Phillippe) que o contrata para defendê-lo da acusão de ter espancado uma mulher. E realmente não posso contar mais nada, pois não recomendo nem que se assista ao trailer para que não se estrague nada.



É claro que o filme possui inúmeros problemas, mas todos são meros detalhes - e detalhes em filmes como esse, se não atrapalham ou não ajudam, devem ser simplesmente esquecidos. Temos um advogado muito bem montado e convincente, sem aquele irritante superpoder que os filmes de tribunal acabam apelando. Marisa Tomei e seu belíssimo sorriso, que está um pouco apagadinha no filme, dá sua contribuição de maneira bastante discreta, porém necessária. Até mesmo a insuficiente interpretação de Phillippe não atrapalha. Portanto, todos os defeitos estão perdoados, pois não atrapalham em nada.


As qualidades é que fazem o filme satisfatório. Não é brilhante e está longe de ser um ícone do gênero. Mas é sincero em cada reviravolta. As cenas de tribunal conseguem exercer fascínio, não por brilhantes intervenções do advogado, mas pelo xadrez que esperamos ver sempre que a corte é mostrada na sétima arte. E o enredo é o grande responsável pelo filme.


Somente o carro e seu condutor é que o filme simplesmente se esqueceu de dar uma história para eles.


Ósculos e amplexos!

"Se Beber Não Case 2", 2011: Nojento, pegajoso, de humor baixo nível.



Se Beber, Não Case! 2 (The Hangover Part II). EUA, 2011. Direção de Todd Phillips. Com Bradley Cooper, Zach Galifianakis, Ed Helms, Justin Bartha, Paul Giamatti, Ken Jeong, Jeffrey Tambor, Mike Tyson,Mason Lee, Jamie Chung, Nick Cassavetes.Warner. 102 min.


Nojento, pegajoso, de humor baixo nível, são adjetivos que o público de "Se Beber Não Case 2" procuram. Tais adjetivos e tantos outros foram garantia de sucesso absoluto para o primeiro filme da saga. Na segunda parte (e conta a "fofocaria" que haverá mais um outro episódio), não há limites para o absurdo. Seguindo com rigor o modelo do primeiro filme, porém de maneira muito mais linear, desta vez é Stu (Ed Helms) quem irá se casar. Precavido, dispensa a despedida de solteiro e convida poucos amigos para ir à Tailândia - local onde reside a família da noiva de Stu. A dois dias do casamento, ele aceita uma inocente cerveja ao redor de uma fogueira na praia e, ao acordar no dia seguinte, vê que a noite lancinante que ocorreu em Las Vegas se repetiu, dessa vez em Bangkok. Alan (Galifianakis) está com a cabeça raspada, Stu tem uma tatoo imensa no rosto, e Phil (Cooper) é o que tem que ficar calmo ao ver que tudo aconteceu novamente. Daí por diante, o filme é uma busca pelas sujas recordações que o público tanto anseia.

Francamente, eu não pertenço ao público de "Se Beber Não Case". Não consigo ver graça alguma vendo um macaco fumando ou simulando sexo oral em um monge bem idoso (discordo, portanto, de Alan - que diz que isso tem graça em qualquer idioma). Também não consigo rir de um dedo decepado ou de piadas com travestis. Não consigo admirar o humor de Galifianakis - o que é obrigatório para embarcar no filme. E realmente reprovo a exibição de cenas com crianças fumando, bebendo, enfrentando a polícia e outras bobagens, mesmo que seja mera indicação de como Alan se vê com seus amigos. Porém, é o que o público deste tipo de filme tanto gosta de ver.

Então, emprestando o olhar de quem gosta deste tipo de filme, ele é um pouco pior que o primeiro. Muito mais voltado para o público masculino, as piadas provocam todos os tipos de situações com um pênis que se pode imaginar. A energia cômica é bastante instável, chegando a momentos de muito tédio na tela. Tudo é muito previsível. Até os segredos do filme não são tão bem explorados assim. A passagem de Mike Tyson não é tão engraçada.

Novamente, pensando como um do público de "Se Beber", tão somente as fotos é que dão o elemento surpresa e de real impacto do filme.

Ósculos e amplexos!


"Um Novo Despertar", 2011: original e gracioso, mas pouco elaborado.



"Um Novo Despertar" (The Beaver) 2011 , [EUA] - 91 min. Drama Direção: Jodie Foster Roteiro: Kyle Killen Elenco: Mel Gibson, Jodie Foster, Anton Yelchin, Cherry Jones, Riley Thomas Stewart, Jennifer Lawrence


Não é a primeira vez na história do cinema em que o ventriloquismo está presente, porém em "Um Novo Despertar" ele é abordado de maneira bastante original. Com uma dramaticidade densa, o terceiro filme de Jodie Foster aborda a história de Walter (Gibson), um maníaco depressivo que passa a se expressar através de um castor de pelúcia à sua mão. Através do castor, ele volta a ser um pai presente ao filho mais novo Henry (Stewart) e tira a sua empresa da falência. Porém, sua esposa Meredith (Foster) e seu filho mais velho Porter (Yachin) não conseguem ver com bons olhos o que todo mundo entende como melhora no quadro de Walter.

Apesar de haver momentos de alívio cômico, trata-se de um filme dramático. Estamos falando de um depressivo em um estágio tão avançado que nenhum tratamento mais faz sentido. E neste momento a crítica incide diretamente na família que, em um primeiro momento apenas suporta (e mal) a situação para logo depois abandoná-lo - o filme não deixa muito claro se é para que ele reaja ou simplesmente por não aguentarem mais o peso morto, pois oscila entre um e outro nos poucos momentos em que tenta evidenciar isto. A alternativa foi a auto-expressão, porém feita de maneira desacompanhada por um profissional. Eis o charme do roteiro e a originalidade em que a produção aborda um interessante aspecto da depressão.

O filme peca em diversos momentos. Meredith, apesar de muito bem interpretada pela belíssima e carismática Jodie Foster, não é personagem bem desenvolvida. Não se sabe dizer muito bem o que ela faz. Não se sabe se ela trabalha construindo montanha-russa ou se isso também é apenas um passatempo de uma dona-de-casa também deprimida. Também bastante superficial a história paralela que acontece entre Porter e Norah (Jennifer Lawrence), que praticamente não contribui com o filme e por vezes se torna cansativo por ser a base explicativa do filme do qual não funcionou muito bem.

Há momentos interessantíssimos como o sexo à três entre Walter, Meredith e o castor onde o drama e a comicidade estão juntas e confusas como uma psicopatia. Além de outras situações como o banho e a briga entre pai e filho. Mas, por outro lado, aparentou-se que o filme iria partir para um drama quando Walter diz que o castor tem vida própria e acabou recuando na proposta sem maiores qualidades. De igual maneira, todas as referências que Porter vai criando para se distanciar das semelhanças de seu pai acabou sendo um grande tempo perdido, pois não colabora com quase nada ao desenrolar da trama. Até mesmo a linda e excelente atriz Jennifer Lawrence acabou tendo um personagem complexo, porém sem tempo para melhor desenvolvê-la.

O filme é gracioso. Gibson possui seu charme em forma, apesar do alcoolismo e das declarações antissemitas. Sua cara de maluco é realmente graciosa, mas infelizente ele abusa de uma delas apenas. Foster, apesar de uma dona-de-casa não encaixar muito bem em seu perfil de bela e inteligente, é convincente na hora em que tem que dar carga dramática ao filme. É daqueles filmes em que se tem que comprar a ideia, senão se torna tedioso. E o fim acaba desapontando, pois força a mão em um final romântico que achei desnecessário.

Ósculos e amplexos!

terça-feira, 24 de maio de 2011

“PONYO”, 2008 (2010): fantasia à beira do mar






"Ponyo: uma amizade que veio do mar" (崖の上のポニョ) [Japão], 2008 - 101 min. Animação / Fantasia / Infantil Direção: Hayao Miyazaki Roteiro: Hayao Miyazaki Elenco: Noah Cyrus, Yuria Nara, Frankie Jonas, Hiroki Doi, Tina Fey, Tomoko Yamaguchi, Matt Damon, Kazushige Nagashima, Cate Blanchett, Yuki Amami, Liam Neeson, George Tokoro, Cloris Leachman, Betty White, Lily Tomlin, Kurt Knutsson, Jenessa Rose, Noah Lindsey Cyrus, Jôji Tokoro



O público brasileiro teve algumas dificuldades para apreciar a história de Ponyo. O filme demorou dois anos para chegar no Brasil (julho de 2010) e não foi bem divulgado. Para ajudar, o filme é inteiramente contado pelo ponto de vista de uma criança e não alivia em nada para a compreensão adulta. E ainda, por diversas vezes, a narrativa é sacrificada em nome do efeito emocional. Sem falar que a narrativa japonesa é por vezes incompreensível para o público mais ocidental.



Não é nenhum crime dizer que Ponyo é uma versão japonesa para "A Pequena Sereia", de Hans Christian Andersen e suas várias versões para o cinema. Afinal, Ponyo é uma peixe filha do mágico e empresário oceânico Fujimoto - de trajes listrados e cabelos soltos à "Yellow Submarine" dos Beatles – com a deusa do mar. Fujimoto possui um imenso despreso pela humanidade devido ao lixo que jogam no mar. Porém, Ponyo foge de seu pai em direção à terra firme – em uma divertida cena em que ela corre sobre grandes ondas. Em terra, Ponyo estabelece um fortíssimo vínculo com Sosuke, garoto de cinco anos e queridinho das idosas da casa de repouso onde sua mãe trabalha. Para que a terra não seja inundada em retaliação de Fujimoto, Sosuke tem que provar que ama Ponyo de verdade.



O cuidado em ser uma animação bem feita e sem imagens geradas por computador já faz do filme uma obra de arte. Ela é charmosa, contém uma poética visual incrível e cativante. Seu enredo é bastante simples, leve, e divertido. Não há mocinhos ou bandidos, mas circunstâncias em que podem gerar conflitos entre personagens. Ao mesmo tempo em que ela aborda sobre famílias, possui uma mensagem ecológica.



Ainda que tenha tido alguns solavancos para o público brasileiro, talvez o único problema do filme seja a grudenta musiquinha ao final da exibição – mas não chega a ser nenhum defeito. Até mesmo a sensação de labirintite ao longo de toda a exibição pode até ser uma vantagem do filme.



Ósculos e amplexos!

“O LIVRO DE ELI”, 2010: bom até o fim, quando desanda.



"O Livro de Eli" (The Book of Eli) [EUA], 2010 - 118 min. Ação / Aventura / Ficção científica Direção: Allen Hughes e Albert Hughes Roteiro: Gary Whitta Elenco: Denzel Washington, Gary Oldman, Mila Kunis, Ray Stevenson, Jennifer Beals, Evan Jones, Joe Pingue, Frances de la Tour, Michael Gambon



O cenário é apocalíptico. Um andarilho (Denzel Washington) segue rumo à Oeste em meio ao que sobrou do mundo. A ausência de água faz dela mais valiosa do que muitas vidas. E sem água, alimento também é absurdamente raro. Porém, o andarilho tem algo consigo que o faz especial. Ele detém um livro do qual poderá salvar a humanidade e do qual está disposto ao que for necessário para defendê-lo. E justamente por possuir uma habilidade extraordinária para defender o seu livro, o andarilho chama a atenção de Carnegie (Gary Oldman), uma espécie de tirano prefeito de um vilarejo e que há tempos busca um livro pelo qual o tornará líder de toda a humanidade. Daí por diante, segue a história do andarilho querendo cumprir sua missão de levar o livro para o Oeste e dos esforços do tirano para impedi-lo.




"O Livro de Eli" tem uma fotografia interessante, praticamente cinza o tempo todo a ponto de sentirmos o clima absurdamente árido que vemos na tela. Sua história nos envolve a ponto de logo nos simpatizarmos com o andarilho e odiarmos o tirano. A precisão dos golpes e a afiadíssima arma dão o tempero da ação necessária. Tudo perfeito ao longo de praticamente dois terços do filme.



O bolo desanda justamente na terceira parte do filme. Na primeira parte, o filme é um bem apresentado "road movie". Assar um gato e dar um pedaço dele a um rato é de uma ironia muito requintada. A segunda parte é um "faroeste" bastante caricato, porém nem por isso ruim. Duelos, combates desiguais, salvar a mocinha, até mesmo as famosas cenas de "saloon" estão todos lá de maneira bem distribuída. Na terceira parte, temos em meio a uma perseguição a pressa em se terminar o filme e aquela mania xarope de se explicar absolutamente tudo detonando o que veio anteriormente.



Por outro lado, mesmo que a terceira parte do filme tenha sido consideravelmente fraca e cheia de solavancos no enredo, ela reserva bons momentos. O casal de velhinhos simpáticos são de arrepiar e a música na radiola dá um alívio cômico em um momento bastante necessário.



Concordo com alguns amigos que disseram que se o filme terminasse uns cinco minutos antes ele talvez não provocasse a sensação de "o que raios foi que aconteceu". Um final defeituoso que chega a se descolar de tudo o que foi mostrado até então.



Obviamente que não se deve falar o que é o tal do Livro de Eli, ainda que praticamente todo mundo já saiba do que se trata. Por isso, sou obrigado a encerrar esta análise por aqui mesmo.

Ósculos e amplexos!

“NINJA ASSASSINO”, 2009: tautologia com muito sangue.



"Ninja Assassino" (Ninja Assassin) [EUA] , 2009 - 99 min. Ação Direção: James McTeigue Roteiro: Matthew Sand e J. Michael Straczynski Elenco: Rain, Naomie Harris, Ben Miles, Rick Yune Sho Kosugi



Um ninja ser assassino não seria uma tautologia? Pondo a redundância de lado, se você gosta de filme com muita ação, pancadaria, rios de sangue, e pouca história, este é o seu filme.


Mika (Harris) é uma agente da Europol fascinada pela sua investigação que a levou a confeccionar um relatório bastante inusitado sobre a existência de clãs ninjas. Nesta investigação, ela descobre a existência de um dos clãs ninjas, o Ozu. É neste momento em que ela encontra um envelope contendo areia preta esperando por ela em seu apartamento: símbolo de que ela se tornou alvo do clã e que é questão de tempo para ser executada. Porém, ao seu lado, ela recebe a ajuda de Raizo (Rain), ninja desgarrado do clã Ozu que deseja vingança pela morte de seu amor e também ninja.


Filmes de artes marciais se tornaram um gênero bastante próprio no cinema. Desde a década de 1960, ele tem revelado verdadeiros heróis como Bruce Lee, Jean-Claude Van Damme, Jet Li e tantos outros. Mas, filmes de ninja seria então um sub-gênero bastante interessante. Ele surge com força no final dos anos 1980, fechando um ciclo bastante rico para o gênero de artes marciais. E o que chama mais a atenção é que, diferente dos filmes de luta no qual se estabelece em uma versão estadunidense do cinema de Hong Kong, os de ninja são inteiramente inventados e estabelecidos pelo cinema ocidental de língua inglesa.


Após a década de 1980, salvo algumas péssimas tentativas, o que se viu no cinema foram apenas algumas adaptações e algumas paródias como a série "As Tartarugas Ninja" (1990, 1991, 1993 e 2007), "9 ½ Ninjas", 1991; "3 Ninjas Contra-Atacam", 1994; e tantos outros. Portanto, "Ninja Assassino" é a primeira tentativa depois de quase duas décadas de ausência deste subgênero.


O filme, portanto, é para um público que há tempos queria ver os ninjas na telona. O que significa que desejam ver muita ação, pancadaria, e toda a mística que envolve o obscuro mundo dos assassinos encapuzados. E quanto a isso, o filme não decepciona. Ainda apresenta muito, mas muito sangue e efeitos sobre as armas de maneira ostensiva.


Quanto à história? Quem liga para ela? Braços e pernas decepadas, música alucinante, e a beleza da luta é o critério fundamental que deve preencher a tela. Além disso, apresenta um dos maiores elencos asiáticos em um filme ocidental de todos os tempos.


Todos os sacrifícios ao enredo, para este público, estão perdoados.


Ósculos e amplexos!

“INVICTUS”, 2009: o rugby na luta pelo fim do apartheid.



"Invictus" (idem) [EUA], 2009 - 134 min. Drama Direção: Clint Eastwood Roteiro: Anthony Peckham, John Carlin (livro) Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Patrick Lyster, Penny Downie, Shakes Myeko


Invictus é o nome de um poema vitoriano do qual serviu de fonte de esperança para Nelson Mandela durante seus 27 anos de prisão por enfrentar a segregação racial do chamado regime Apartheid na África do Sul. Tamanha a segregação entre brancos e negros, que havia separação em praticamente tudo, desde bancos de ônibus, escolas e bebedouros, até mesmo idioma. No esporte não poderia ser diferente. Enquanto o futebol era o esporte dos negros, o rugby era o dos brancos. E, já presidente, com a esperança de superar de vez o fim do apartheid, Mandela investe pesado para que o rugby seja o esporte do povo da África do Sul, sem qualquer distinção racial.


Inspirado em fatos reais, "Invictus" apresenta ao mundo que o processo de superação do apartheid não foi e não é uma coisa simples. Que mesmo elegendo um presidente negro, havia muita coisa a ser feita para que a nação fosse de fato uma só e não mais dividida entre brancos e negros. Ao mesmo tempo, apresenta para o mundo o irmão "quase" gêmeo do futebol: o rugby. Tudo isto em véspera da Copa do Mundo de Futebol, que em 2010 teria a África do Sul como sede, portanto, o filme ainda serve de voto de confiança – se a África do Sul foi capaz de sediar o mundial de rugby em uma época muito mais complexa, será capaz de sediar também o de futebol em outra época consideravelmente melhor.


O filme nos apresenta uma das melhores atuações de Morgan Freeman e Matt Damon. Freeman praticamente virou sósia perfeita de Nelson Mandela. Trejeitos, sotaques, e tantos outros detalhes são interpretados de maneira assustadoramente fidedigna. E Damon faz um gigante jogador, de fortíssimo sotaque africâner, do qual chegamos a jogar bola junto com ele com imensa facilidade. Além disso, vemos uma direção de Clint Eastwood bem feita, competente, demonstrando sua maturidade ao longo de dez anos de filmes bem-sucedidos e uma intervenção interessante quanto à sua visão acerca da política (suja e escura nos gabinetes, alegre e colorida fora dela).


O esporte alimenta tantas paixões quanto à política. A figura de Nelson Mandela compete de igual para igual com o time de rugby sul-africano. Apresenta, inclusive, os inusitados jogadores da Nova Zelândia, agradando também os fãs do esporte. E elegantemente, o filme vai do esporte à política, retornando ao esporte, sem prejudicar nenhum deles. Sugerindo uma simbiose bastante simpática, ainda que haja inúmeros atropelos.


É lindo e emocionante como um jogo bem disputado.


Ósculos e amplexos!







“ONDE VIVEM OS MONSTROS”, 2009: a turbulenta mente de uma criança de nove anos de idade.

"Onde Vivem Os Monstros" (Where The Wild Things Are) [EUA], 2009 – 101 min Drama / Fantasia Direção: Spike Jonze Roteiro: Spike Jonze, Dave Eggers, Maurice Sendak Elenco: Max Records, James Gandolfini, Catherine Keener, Paul Dano, Catherine O'Hara, Forest Whitaker, Michael Berry Jr., Chris Cooper, Lauren Ambrose



Mais um filme com criança, repleto de bichos em um mundo encantado, baseado em um livro infantil e muito popular no jardim de infância, mas que acabou sendo feito para adultos. Não se trata, definitivamente, de um entretenimento familiar daqueles onde se reúne toda a família para assistir uma história de bichinhos fofinhos que tomam forma real. Trata-se de um filme que se passa na turbulenta mente de uma criança de nove anos de idades. É uma obra sobre a depressiva necessidade de amadurecer e enfrentar um mundo real cinza, cruel e doloroso.



O filme é baseado no homônimo e conciso livro de 338 palavras, 9 sentenças e 37 páginas de Maurice Sendak, e que se tornou um clássico da literatura dos Estados Unidos. Sua importância para a literatura estadunidense pode ser verificada através de declarações como a do Presidente Obama quando ele diz ser um de seus livros favorito e que o leu mais de mil vezes. Nele, Max (Records) nos é apresentado como uma criança de classe social não muito abastada, de mãe solteira (Keener) e irmão de uma adolescente sem tempo para ele. Quando os amigos de sua irmã destroem seu "forte de neve", Max, em retaliação, destrói tudo o que há em seu quarto. Para piorar, sua mãe leva para casa seu namorado (Ruffalo) e novamente uma explosão de raiva toma conta de Max – ele se veste de lobo e morde sua mãe.



Mandado de castigo, Max em sua imaginação foge de casa e desembarca em uma ilha onde vivem os monstros. Lá é um lugar de grandes desertos e florestas sombrias e que tem como habitantes vários monstros que revelam partes da personalidade (ou da própria psique) de Max: o preferido dele, Carol (Gandolfini), impetuoso e egocêntrico; o dócil e criativo Ira (Whitaker); o companheiro Douglas (Cooper); o bode carente Alexader (Dano); a severa Judith (O'Hara); o lamurioso Touro (Berry Jr) e KW (Ambrose) o sentimento materno recebido. Max se torna o líder deles, transformando-se em uma espécie de pai dos monstros preocupado e assustado quando as criaturas saem do controle.


O filme ganhou ares de filme de arte, mas se simpatizar ou não com ele depende muito do espectador topar a fantasia. E é justamente neste quesito a maior dificuldade da obra: a fantasia é cansativa e triste. A projeção, ao contrário do livro, chega a ter momentos de grande verborragia. É difícil se identificar com qualquer coisa.



A bipolaridade é presente nas músicas, na história, e nos monstros, sendo uma característica marcante em todo o filme. Mas as cores pálidas e escurecida, bem como a neve azulada, não é exatamente atraente para aquele que deseja mergulhar na mente de uma criança – mesmo que turbulenta e depressiva.



O filme não é ruim, apesar de tudo. É bastante triste e seu ritmo é lento como o sono de um usuário de anti-depressivos. Porém, soube explorar bem a depressão infantil em meio a uma elegante narrativa.


Ósculos e amplexos!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"A Sogra", 2005: Às vezes, engraçado.



"A Sogra" (Monster-in-Law) [EUA/ALE] 2005 87 min Comédia Direção: Robert Luketic Roteiro: Anya Kochoff Elenco: Jennifer Lopez, Jane Fonda, Michael Vartan, Wanda Sykes, Adam Scott, Annie Parisse, Monet Mazur, Will Arnett, John Aylward, Lorenzo Caccialanza

O filme causou um certo furor quando de seu lançamento. Jane Fonda voltava às telas quinze anos depois de ela mesmo dizer que não mais voltaria. E o mais interessante: voltou sendo desafiada a enfrentar uma comédia física do qual nunca havia tentado antes. Ela interpreta Viola Fields, veterana apresentadora de TV que surtou no ar - quando entrevistava alguém muito parecida com a Britney Spears. Seu surto não fora gratuíto, minutos antes ela saberia que a jovem da qual ela pensava ser enviada para lhe servir café era na verdade sua substituta. Quando recebe alta do manicômio, tem que enfrentar talvez um estresse ainda maior: seu único filho, o doutor Kevin (Vartan) apresenta sua namorada Charlotte "Charlie" Cantilini (Lopez) e a pede em casamento. Deste ponto em diante, Viola faz de tudo para que o casamento não se concretize sem que Kevin perceba sua intervenção.

Às vezes, o filme chega a ser engraçado. Em geral o filme é bastante sem graça. A história tem um demorado e desnecessário prelúdio para mostrar onde tudo começou na vida de Kevin e Charlie. Quase a metade do filme é sem maiores objetivos, exceto por uma repetitiva apresentação de personagens. Aliás, a quantidade de personagens periféricos e que pouco ou quase nada contribuem para com a história também é imensa. Tudo gira ao redor de Charlie e Viola. Tanto que o filme tem seu momento quando somente as duas tem de conviver juntas por um tempo sob o mesmo teto.

Em busca de um algo a mais para promover o filme, há inumeras "piadas para leitor de Caras ou Contigo". Não me agrada, pois contribuem praticamente em nada para a história e expõe ao ridículo algumas coisas que poderiam sobreviver tranquilamente em anonimato - sem falar que incentiva a busca por uma informação realmente irrelevante. São as piadas de acordo com as fofocas mais famosas entre as personalidades. Jeniffer Lopez, dona de uma generosa retaguarda principalmente para os padrões "prancha" da mulher estadunidense, não teria outro problema para entrar no horroroso vestido de cor pêra senão exatamente por não conseguir passá-lo pelos quadris. E nossa querida Jane Fonda, assustadoramente envelhecida e fora de forma física (logo ela, a rainha dos programas de condicionamento físico na televisão), tem uma personagem que igualmente teve quatro casamentos - sendo um com um milhonário e outro com um cabeleireiro gay.

O filme padece de regularidade, além de ser bastante previsível. De conflitos bastante óbvios, não consegue alcançar a graça pretendida em se explorar o universo paranoico de uma relação egocêntrica entre nora e sogra. Inúmeras situações são apresentadas sem continuidade - uma "ex-ficante" de Kevin o beija e fica por isso mesmo; um fio de cabelo é arrancado para investigação, mas a informação some do filme; uma amiga de Charlie tem relevância alguma para a história; e assim por diante. O próprio Kevin chega a ser desnecessário em boa parte do filme (tanto que o auge acontece quando ele está viajando).

Se por um lado a interpretação corajosa de Jane Fonda e o sorriso de Jennifer Lopez são marcantes, por outro, ainda mais marcante é a participação de Wanda Sykes. Apesar dela fazer uma atrevida doméstica negra típica das comédias de situação dos anos 1950 e que hoje não há a menor necessidade de se explorar este tipo de personagem, sua atuação salva com elegante comicidade o filme de seus momentos mais tediosos. Ela é uma espécie de grilo falante para Viola não acelerar demais na loucura de sogra-bruxa.

Não é que o filme seja ruim - e ele não o é. Apenas sofre por ser fraco e irregular, ainda que por vezes provoque risos.

Ósculos e amplexos!

"Galera do Mal", 2004: comédia adulta com personagens adolescentes.



"Galera do mal" (Saved!) [EUA], 2004 Comédia - 92 min. Direção: Brian Dannelly Roteiro: Brian Dannelly, Michael Urban Elenco: Jena Malone,Mandy Moore, Macaulay Culkin, Patrick Fugit, Chad Faust, Eva Amurri, Martin Donovan, Mary-Louise Parker.


O filme, apesar do (mais uma vez) péssimo título em português, apesar da capa não dizer nada, e apesar de um elenco bastante jovens, não é uma comédia adolescente. Também não é uma sátira religiosa. É uma abordagem bem humorada sobre a intolerância. E nada melhor do que uma escola, reino da intolerância de todos os tipos, para servir de ambiente para o tema.


Em uma tradicional escola cristã (batista, mas bem que poderia ser qualquer outra), há igualmente em outra escola a turma dos descolados e a turma dos perdedores (outsiders) - adotando a gíria que a legendagem brasileira adora usar. Porém, por ser uma escola religiosa com direito a culto e tudo, a turma dos descolados não tem seus destaques com o time de futebol americano, mas com as fanáticas religiosas. Mary (Jena Malone), é uma destacada participante da "panelinha" denominada "Jóias Cristãs". A panelinha é liderada, ou melhor, gira ao redor de sua líder Hilary Faye (Mandy Moore) que se dedica a louvar aquilo que ela mais ama: sua própria popularidade. Porém, de uma brincadeira bastante inocente de se confessar segredos embaixo d'água, Mary ouve de seu namorado, Dean (Chad Faust) que ele acha ser gay. O susto foi tamanho que, após bater a cabeça, Mary tem uma epifania: viu o Senhor lhe ordenar a fazer sexo com seu namorado a fim de salvá-lo com a promessa de ter a sua virgindade restaurada devido a fé e a boa-ação da causa.


Obviamente que Cristo não tem nada a ver com isso. E o resultado não poderia ser mais desastroso para Mary. Ela fica grávida, seu namorado é internado em uma clínica para "des-gaynização" e ela passa a enchergar o fanatismo religioso e toda sua hipocrisia quando passa a ser praticamente cassada por sua até então "muy" amiga Hilary. Hipocrisia que já vinha sendo apontada com toda a ironia do mundo pelos outsiders Roland (Macaulay Culkin), irmão de Hilary, e da única judia da escola Cassandra (Eva Amurri). Para jogar ainda um pouco mais de pimenta na já complexa situação, a mãe de Mary, Lilly (Mary-Louise Parker) tem um caso secreto com o líder religioso e diretor da escola Skip (Donovan) que faz com que ambos nunca saibam o que fazer diante tantos acontecimentos. E o duelo entre perdedores e descolados se dá na medida em que Hilary disputa com Mary o amor do skatista Patrick, filho de Skip.


A ironia toma conta do começo ao fim do filme com situações inteligentes e várias vezes hilárias. Sem apelações, até mesmo na cena em que a rebelde Cassandra em hebraico (?) ameaça mostrar os seios no meio do culto, até a tentativa de Hilary em resgatar a "ovelha perdida" da Mary com uma sessão de exorcismo dentro da van. Mas é quando Hilary arremessa a Bíblia em Mary e essa adverte: - "isso não é uma arma, idiota" é que percebemos que se trata de uma mensagem não contra as religiões, mas contra o fanatismo, a hipocrisia, e o quanto elas podem ser maléficas para todo mundo.


O filme tem alguns defeitos que não chegam a prejudicar no conjunto final. Todos os adultos são idiotas e há uma certa arrogância contra tudo e todos. O filme tem uma suavidade impressionante para o peso do tema, talvez por isso sua abordagem seja tão superficial. Outra coisa problemática é a brincadeira com as clínicas de "desgayzação", onde se fala que é mais para quem manda seus filhos do que para os filhos - não, definitivamente eles não são assim e costumam provocar estragos impressionantes.


Os destaques vão para os quatro atores principais do filme. Culkin está amadurecido, com falas inteligentes, e convincente no papel de "bad boy" paraplégico. Eva Amurri está perfeita como garota problema, sendo o alívio humorístico nas situações mais críticas. Jena Malone consegue ser a protagonista principal sem ofuscar os demais e sem ser ofuscada por eles. E Mandy Moore é uma grata surpresa ao vê-la atuando (ela é uma cantora pop-teen até que bem famosa). O filme serve para entreter e refletir. É suave sem ser bobo. Ainda que reserve certos momentos de pastelão.


Ósculos e amplexos!




"Heroi", 2002: nenhum soco sequer é gratuito.



"Herói" (Ying xiong) [China], 2002 Drama/Épico - 96 min. Direção: Zhang Yimou Roteiro: Zhang Yimou, Li Feng, Wang Bin Elenco: Jet Li, Tony Leung Chiu-Wai, Maggie Cheung Man-Yuk, Zhang Ziyi, Chen Dao Ming, Donnie Yen



Um dos primeiros desafios para quem for assistir "Herói" é se despir da ideia de que um filme com Jet Li sempre é pura pancadaria e pouca história. Por isso, decepcionará quem o assistir querendo ver apenas ação e pancadaria. "Herói" é um filme com Jet Li em que nenhum soco qualquer é gratuito, há uma história, e o visual é digno de contemplação.

O filme inteiro se passa ao longo do diálogo entre um guerreiro sem nome (Jet Li) e o rei da província de Qyn
(Daoming Chen). O guerreiro sem nome obteve, como recompensa tesouros e o direito de se aproximar do soberano por ter matado Espada Quebrada (Tony Leung Chiu Wai), Céu (Donnie Yen) e Neve Voadora (Maggie Cheung) - guerreiros da província de Zhan que por muito pouco não mataram o rei de Qyn. Na medida em que o rei questiona um determinado fato, o guerreiro sem nome revisa suas declarações e assume uma nova abordagem.

No prelúdio, uma importante citação: em uma guerra há herois em ambos os lados. No sonho do soberano de Qyn pela unificação da China reside o mesmo sonho de todas as outras províncias: assegurar a paz. Tais elementos são apresentados por um diálogo austero entre o guerreiro sem nome e o soberano de Qyn. Em cada parte do relato, as cores vão dominando a cena e apresentando o estado de humor do contador da história e de seus personagens. Os golpes e a luta, bem como inúmeros elementos simbólicos da cultura chinesa e da cultura envolta nas história de artes marciais "wuxias". Cada detalhe é entalhado no filme com precisão de um calígrafo - referência importante para a beleza do filme e também para a história narrada.

Tão somente a crítica chinesa não gostou do filme. Segundo eles, a história é carregada de uma concepção pró-monarquia de paz do qual tão somente a revolução maoísta foi capaz de construir. Ou seja, há elementos imperialistas, beirando o fascismo nacionalista, por demais. Enfim, quando se mete em política, o filme acaba sendo uma propaganda anti-socialista e reverenciando um perigoso passado de sacrifícios em nome da terra e seu soberano. O curioso é que o filme não foi proibido e foi recordista de público em toda a China. Para a maioria dos críticos ao redor do mundo, o filme agrada e muito - principalmente pela sua estética.

O filme é agradável aos olhos e de uma narrativa suave, ainda que seja em meio à batalhas e confrontos mortais. É dotado de imensa inteligência ao trabalhar a ambiguidade que envolve a narrativa do guerreiro sem nome, sem adiantar nenhuma das viradas que a história vai enfrentando. A interpretação dos atores em meio a tantas expressões austeras é surpreendente. A trilha sonora é bem escolhida, expressando não apenas as emoções da tela como também a mensagem que o diretor tenta passar e não consegue visualmente.

No fim das contas, acaba se tornando um filme de dimensões épicas em meio aos exageros dos filmes de luta - todos buscando o impacto e a beleza visual, portanto perdoados. Cansa um pouco tantos significados para um código de honra da luta, mas que não prejudica o filme e sua narrativa em nada. Um filme muito bom.

Ósculos e amplexos!

"Os Seis Signos da Luz", 2007: gincana boba.



"Os Seis Signos da Luz" (The Seeker: The Dark is Rising) [EUA] , 2007 - 94 min. Fantasia Direção: David L. Cunningham Roteiro: John Hodge Elenco: Alexander Ludwig, Ian McShane, Frances Conroy, Christopher Eccleston, Gregory Smith, Amelia James Cosmo, Jim Piddock, Amelia Warner, James Cosmo, Emma Lockhart


Há algo mais angustiante que ter 14 anos? Sim, ter 14 anos e ainda ter que salvar o mundo. Mais um filme em que uma gincana pode condenar ou salvar o planeta. Will Stanton (Ludwig) é o sétimo filho de um sétimo filho [não resisto a piadinha: se ele apostar tudo em um cavalo número sete, não dar dar outra: ele ficará em sétimo]. Por causa disto, ele é o caçador (the seeker) dos seis signos da luz, fundamentais para que as trevas (Eccleston) não vença o próximo combate entre mal e bem.


O filme é mais um que tenta pegar carona no sucesso de "Harry Potter" e "O Senhor dos Anéis" e que não obtém muito sucesso. Não possui em seu ator principal o carisma necessário para que a fórmula "aqui sou um Zé Ninguém, mas lá sou O Cara" funcione. Os "guardiões", responsáveis por orientar o adolescente enquanto segue as pistas da gincana não influenciam em praticamente nada ao longo do filme inteiro. E as malvadas trevas não assustam ninguém. Tudo culpa de um roteiro que não dá tempo para que nenhum dos personagens se desenvolva. Sem falar que as frases mais importantes são batidas e desnecessárias como "como posso salvar o mundo se não consigo nem falar com uma menina" e " mesmo a menor luz resplandece nas trevas".


O unico elemento que chegou a provocar um certo pavor foi a dos corvos na árvore em uma cena digna de "Os Pássaros". Mas logo até isso se transforma em um tolo argumento irrelevante para a história. A violência do confronto é prometida, mas fica implícita o tempo todo. Elementos que indicam viradas importantes acabam sendo mal apresentados, tornando-se previsíveis demais e estragando a surpresa. Além disso, o filme busca uma tensão dramática que nunca chega.


Fraco e tolo, o filme é uma gincana boba, de intensões moralizantes, em que se aborda o custo de nossas escolhas de uma maneira destemperada para todos os públicos.



Ósculos e amplexos!

"A Busca Pela Honra", 2005: continuação do romance SUD, melhor que o primeiro.



"A Busca Pela Honra" (The Work and the Glory II: American Zion), 2005 [EUA] Drama Direção:Sterling Van Wagenen Roteiro: Gerald N. Lund / Matt Whitaker Elenco: Sam Hennings (Benjamin Steed) Brenda Strong (Mary Ann Steed) Eric Johnson (Joshua Steed) Alexander Carroll (Nathan Steed) Brighton Hertford (Melissa Steed) Kimberly Varadi (Becca Steed) Colin Ford (Matthew Steed)Sarah Bastian (Lydia Steed, também Sera Bastian Emily Podleski (Jessica Roundy) Jim Grimshaw (Josiah McBride) Jonathan Scarfe (Joseph Smith) Melanie Hawkins (Emma Smith) Frank Ashmore (Martin Harris) Curtis Andersen (Carl Rogers)



Segundo filme da trilogia mórmon "The Work and The Glory", aborda a história da fictícia família Steed em meio à real história dos primeiros anos de A Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias. Diferentemente do primeiro filme que se preocupou em defender a religião mórmon dos preconceitos, o segundo apresenta a vida de uma família ao longo dos primeiros anos de peregrinação mórmon em busca de sua Sião. A intenção aqui é a de mostrar o drama das famílias pioneiras em sua caminhada para sua terra prometida. Ao longo da exibição, importantes aspectos da história mórmon é apresentada - como a expulsão dos Santos do condado de Jackson, Missouri; o Acampamento de Sião; e os primeiros momentos da construção do Templo de Kirtland, Ohio.

Enquanto o primeiro filme buscou um público não mórmon, o segundo é escancaradamente destinado para os membros da Igreja. Sem um Santo dos Últimos Dias ao lado, um não membro terá dificuldade de entender sobre o que foi e o que significou a expulsão dos mórmons do condado de Jackson e a queima do "Livro de Mandamentos; o que foi e o que significou o acampamento de Sião; até mesmo o que é uma bênção de saúde ou uma aposição de nome (semelhante ao Brit Mila dos judeus). E é justamente nestes aspectos que o filme tropeça, inclusive para o público Santos dos Últimos Dias. Não se tem sequer menção à bravura das moças que salvaram o "Livro de Mandamentos" do incêndio durante a expulsão do condado de Jackson; não se tem a correta dimensão do que foi o acampamento de Sião (tampouco a importante formação do quórum dos doze apóstolos com resultado), a bênção de saúde aparenta ser um milagre de Joseph Smith (e não da fé em Jesus Cristo, conforme é a bênção) e outros elementos importante da história mórmon.

Por outro lado, dá uma dimensão interessante para o sofrimento pelo qual passaram os santos em seus primeiros dias de peregrinação pelos Estados Unidos. E o faz por meio do drama da família Steed envolto ao moralizante debate sobre orgulho e perdão. Enquanto no primeiro filme se dá ênfase ao drama entre os irmãos Joshua e Nathan, no segundo a ênfase se encontra entre a família Steed inteira e o patriarca Benjamin. E o filme consegue fazer de maneira bastante interessante e convincente. Exceto talvez em seu final, em que apenas se preocupa em dizer que haverá uma continuação em um terceiro filme, deixando o espectador no ar por causa disso.

Ainda há uma interessante, novamente para o público mórmon, apresentação de personagens importantes como Orson Pratt, Emma Smith, e Brigham Young (que mais tarde seria o segundo Presidente da Igreja e aquele que conclui a peregrinação ao chegar e fundar Salt Lake City). Ao longo do filme vamos sentindo as adversidades dos personagens e sendo transportados para a história da Igreja (que se confunde com a história dos Estados Unidos). Vamos entendendo um pouco mais sobre os motivos da perseguição aos mórmons (no primeiro filme é a cobiça por tesouros, no segundo são questões políticas como o fato dos mórmons serem abolicionistas). Por fim, acaba sendo um filme bastante interessante ainda que se perca entre a história dos Steeds e a história da Igreja, sacrificando a primeira sempre que precisa mostrar a segunda.

O fato de ser inteiramente destinado para um público mórmon, ele não é impeditivo para o públicos não-membros da Igreja. O filme é agradável ainda que falte um pouco de calor emocional do ponto de vista mais cinéfilo.

Ósculos e amplexos!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Velozes e Furiosos 5", 2011: francamente, odiei este filme!





"Velozes e Furiosos 5" (Fast Five) [EUA] , 2011 - 130 min. Ação Direção: Justin Lin Roteiro: Chris Morgan Elenco: Vin Diesel, Paul Walker, Dwayne "The Rock" Johnson, Joaquim de Almeida, Jordana Brewster, Chris “Ludacris” Bridges, Tyrese Gibson, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Elsa Pataky, Don Omar, Tego Caldero.

Nunca fui tão insultado por um filme. "Velozes e Furiosos 5" insultou tanto a minha inteligência quanto ao meu país.

Não foi a completa ausência de roteiro que me insultou. A série começou de uma produção despretenciosa que caiu no gosto dos mais adolescentes. Um filme após o outro o tal do roteiro era da profundidade de um pires de tão razo. Portanto, não esperava muita coisa. Também não foi a propaganda enganosa com o título tanto em português quanto em inglês sobre velocidade. A ausência da principal característica da série, sua marca registrada, que são os pegas entre carros alucinantes não fez tanta falta assim. Muito menos o filme girar entorno de Vin Diesel e The Rock Johnson - quando a série inteira girava ao redor de Brian (Paul Walker), pois a contribuição do personagem para este filme não faria a menor diferença depois que se junta personagens de todos os episódios anteriores (sem a menor preocupação de manter sequer suas personalidades). Minimamente, então, pelo filme ser uma imensa bobagem do começo ao fim e créditos finais.

O insulto começa logo na primeira e eletrizante cena de ação. Dominic Toretto (Vin Diesel) esta em um ônibus prisional, sendo levado para a penitenciária onde irá cumprir a pena de 25 anos pelos feitos cometidos e ilustrados nos filmes anteriores da saga. O espetacular arremesso de ônibus provocou apenas a fuga, pelo jeito sem nenhum arranhão, de Toretto. Para garantir, jornais de todo os Estados Unidos garantem: apenas um fugiu e não houve machucados! Pera lá, um ônibus prisional viaja sem escolta, rodopia a uns 200 quilômetros por hora, e nem um arranhãozinho? Nem um bandido escapou junto? Como são precisos os amigos de Toretto!

Não, o insulto não para por aí. Ele apenas estava começando. Muito pior estava por vir. Sem a menor explicação, Mia (Brewster), Brian (Walker), e Dominic (Diesel) vão parar no Rio de Janeiro. Lá encontram um velho amigo de Toretto que, também sem motivo algum, é chefe de um grupo de favelados armados até os dentes. Sem motivo nenhum mesmo! Não vende droga, não contrabandeia armas, nem sequer palavrão fala! E o mais bonito é que eles guardam a mesma posição, no mesmo lugar do morro, e com a mesma cara, pois há uma outra cena em que eles são requisitados a mostrarem suas armas e eles repetem tudo isto com perfeição!

Se subestimar insistentemente a sua inteligência não for um insulto o bastante, que tal visitar sua casa, bagunçá-la inteira e ainda dizer que sua esposa e filhas são umas vagabundas? Pois é, eles fazem tudo isso sem o menor peso na consciência.

Veja só: que a polícia do Rio de Janeiro não goza de boa fama internacional a gente entende, mas colocar o cofre do bandido - e do qual somente ele consegue abrir - dentro da superintendência da Polícia Militar chega a ser uma cusparada em nossa cara. Sair com esse cofre pelas ruas bem caribenhas do Rio de Janeiro destruindo tudo sem se importar ou machucar ninguém faz cuspir duas vezes. Achou pouco? Que tal um trem de passageiros bem high tech em pleno deserto carioca, com cânions e vegetação idêntica ao do Arizona? Ou a placa de "Bienvenidos"? Ou a mãe chamando por seu "mi filhinu"? Ou a mais hilária de todas as situações: misturar-se entre os carros da polícia sem ninguém perceber que se é um carro da Polícia Civil sendo pilotada por alguém fardado de Policial Militar???

Nenhum ator brasileiro ao longo de todo o filme. Qual a solução que foi adotada para dois brasileiros conversarem entre si no Brasil e não ser em inglês? Dublar toscamente e dar uma banana para a sincronização com os lábios. Chega a parecer aquelas situações patéticas de delay jornalístico entre estúdio e a rual. Hernand Reyes, com seu nome bem brasileiro igualmente ao bem brasileiro deserto e seu trem hightech, por ser interpretado por um português (Joaquim de Almeida), não tem esse problema de dublagem tosca. Mas, um português ensinar que para dominar o Brasil é necessário repetir o que os portugueses fizeram trocando espelhinhos com os índios, faz pular de raiva até o menos patriota dos brasileiros. E a irmã de Toretto? Que perfeição de português que ela fala - melhor do que todos, absolutamente todos, os brasileiros! Jordana Brewster, que cresceu no Brasil, empresta sua estridente voz praticamente sem sotaque à sua personagem Mia Toretto. O problema é que a personagem é estadunidense "da gema".

Agora, a piada de péssimo gosto ficou inteiramente apresentado por Dwayne "The Rock" Johnson!

Ele chega ao Brasil chamando todos, absolutamente todos os policiais de corruptos. Tanto que só acredita na incorruptividade que a recém-viúva e belíssima (e única em todo o filme que possui pelo menos nos seios um pouco das curvas da mulher brasileira) Policial Militar Helena Neves (Elsa Pataky), que não faz absolutamente nada o filme inteiro a não ser se render ao charme de Diesel. Sobe o morro e com um simples comando de voz intimida todos os favelados armados até os dentes (mas que não se dá motivo algum para que eles tenham que se armar tanto - talvez esperando o BOPE). Estraga a festinha bem "chicana", repleta de mulheres "táboas" em roupas minúsculas e sem o menor apelo sexual para qualquer brasileiro, sem dar um tiro sequer. Ou melhor, só baixa a bola quando outro americano diz ao povo brasileiro o que se deve fazer - a lastimável cena do "This is Brraziu!" de Vin Diesel. E a tão esperada pancadaria entre The Rock e Diesel é decepcionante.

Realmente odiei este filme. Cada segundo dele é um insulto ora a minha inteligência, ora ao meu país, ora por ambos. E o pior: vai ter uma continuação! (Eva Mendes aparece entre os créditos finais - só faltou cantar "Como uma Deusa!").

Ósculos e amplexos!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Como você Sabe", 2010: ninguém sabe quando algo acontecerá.



"Como você sabe" (How Do You Know) [EUA], 2010 – Direção: James L. Brooks – Elenco: Reese Witherspoon, Paul Rudd, Owen Wilson, Jack Nicholson – Duração: 121 minutos – Drama/Romance.


Um triângulo amoroso entre uma recém-aposentada jogadora de soft-ball (um tipo de baseball), um desempregado e réu por crime financeiro, e um jogador de baseball narcisista. Com a dificuldade do filme desenvolver, bastaria essa frase para uma sinopse exata da produção de James L. Brooks. Pois, são duas horas em que nada acontece.


Estranhamente, o filme tem uma senhora história nas mãos e simplesmente a esnoba. Lisa (Witherspoon), com 31 anos, está um segundo mais lenta. Isso significa que, para o mundo dos esportes, ela está velha e precisa se aposentar. Ela olha para o espelho repleto de post-it motivacionais dos quais nenhum lhe ajuda em absolutamente nada e vai à luta. E em meio a uma forçada crise de idade, o filme não tocará mais nesse assunto até o fim. Quer outra coisa mais estranha? O mais perto que Witherspoon chega de uma bola de softball é quando em meio a um treino ela toma uma bolada na cara para entrar na vida dela o bobo George (Rudd).


Com George outra senhora história é esnobada. Ele é filho de Charles (Nicholson), um mega-empresário envolvido em fraude financeira (que em momento algum do filme se diz qual fraude especificamente se está falando). O drama se complica quando Charles deseja proteger o filho, mas nesses casos desaconselha-se qualquer comunicação entre funcionários. Complica-se ainda mais quando Charles tem que escolher em ser homem de negócios ou pai. E, ao longo de todo o filme, nada dessa trama de desenvolve - apenas acompanhamos o murmurar de George.


Nem vou perder tempo contando sobre o personagem de Owen Wilson, pois ele faz sempre o mesmo personagem bobalhão narcisista de sempre. O romance é superficial, o drama é frágil, e a comédia é dependente de traquejos típicos de sitcom. O pouco que se ri é com Nicholson, porém não me lembro de um personagem tão ruim e, de longe, talvez a sua pior atuação. São duas horas de uma repetição sem fim, inclusive em alguns momentos com falas idênticas. E o título original, apesar de sugerir uma pergunta sobre como você sabe, demonstra que ninguém sabe de nada e possui uma séria dificuldade em se ouvir - mesmo quando eles param o que estão fazendo para isso. Um filme realmente patético.


Ósculos e amplexos!

"Reencontrando a Felicidade", 2010: inteligentemente austero



"Reencontrando a Felicidade" (Rabbit Hole) [EUA] , 2010 - 99 minutos Drama Direção: John Cameron Mitchell Roteiro: David Lindsay-Abaire Elenco: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Miles Teller, Dianne Wiest, Sandra Oh, Tammy Blanchard


Confesso que estava receioso de assistir a esta produção. O nome em português e a sinopse oficial realmente não animam, principalmente quando se diz que o pano de fundo é devido a morte de uma criança. Seja a tragédia familiar em si, seja o olhar sobre a depressão que vem depois, nenhum desses me apetecem.


Becca (Kidman) e Howie (Eckhart) ainda estão em luto, pois não faz oito meses da morte de seu filho. E cada um aparentemente lida com a perda de maneira completamente oposta um ao outro. Enquanto Becca busca sublimar um pouco de sua dor, Howie tenta compartilha-la. E assim, o filme demonstra a dura batalha em se construir a vida após tamanha perda.


Quando nos perguntamos o motivo do nome original ser "o buraco do coelho", vemos que o filme vai muito mais além do que uma abordagem acerca da difícil busca por felicidade após um trauma. Primeiramente, quando imaginamos um filme sobre pessoas depressivas o visualisamos em um ambiente sombril. Logo de início, a primeira cena do filme se dá em um amplo jardim, com Becca empenhada em cuidar de suas plantas. Nesse momento, tudo é muito tátil até que a vizinha, em um ato de compaixão, convida Becca para um jantar. Sem querer, a pobre vizinha pisa em uma das flores e provoca uma constrangedora situação. Eis a tônica do filme: tão somente quem está de luto construirá seu próprio caminho para sair dele. E qualquer tentativa, mesmo as mais clichês como um jantar de compaixão, um churrasco em família, tentativa de ter novos filhos, ou ainda as famosas terapias de grupo.


É uma abordagem muito sóbria, austera, que aborda não a perda, mas o luto - ou melhor, o caminho para sair dele. Como não poderia ser diferente, é um filme emocional, mas que se recusa a ser intenso na tragédia - e que todos os atores, principalmente Kidman e Wiest estão espetaculares. Um retrato honesto do luto, que definitivamente não se aparenta em nada aos dramalhões que vemos nas novelas globais e também nas mexicanas. A montanha-russa de sentimentos e que se está envolta a uma densa núvem de incertezas e ansiedades está no filme em todos os aspectos, sem apelações alguma.


Entre a negação e a busca de um sentido para a morte de quem amamos (segundo Kubler-Ross e a veneração que os estadunidenses possuem por este tipo de estudo), Becca rejeita absolutamente todos, principalmente o sentido religioso. É no reencontro com o algoz de seu filho, Jason (Teller), que ela vai encontrando na dor de quem acidentalmente provocou toda a sua tragédia que ela vai encontrar algum sentido. E assim, talvez, concretizar sua saída do luto.Um filme que trata o luto de maneira honesta, de muito bom gosto. E o mais impressionante: sensibiliza-nos e nos emociona sem fazermos sofrer ainda mais com a tragédia.


Ósculos e amplexos!

"Eu Sou o Número Quatro", 2011: uma boa mistura não faz um filme bom.



"Eu Sou o Número Quatro" (I Am Number Four) [EUA] , 2011 - 109 min. Ação / Aventura / Ficção científica Direção: D.J. Caruso Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar Elenco: Alex Pettyfer, Timothy Olyphant, Teresa Palmer, Dianna Agron, Callan McAuliffe, Kevin Durand



"O Garoto do Futuro", 1985, fez muito sucesso por contar a história de um lobisomem adolescente. Perfeito, afinal todo adolescente se sente um pouco um lobisomem em meio a tantas transformações no corpo. Ao mesmo tempo, um ser mitológico possui super-poderes, o que apresenta o elemento fantasia ideal para que o filme se desenvolva bem. O mesmo acontece com "Harry Potter e a Câmara Secreta", 2002, que tem um "joão-ninguém" pré-adolescente adotado por péssimos tutores, mas em um mundo paralelo é famoso e possui poderes mágicos. Praticamente todos os super-herois vivem com o drama de ter o mundo para salvar, mas que com muita dificuldade consegue manter seu próprio relacionamento amoroso em segurança. Em "Transformers", 2007, tem o encanto de extraterrestres lutando com outros extraterrestres e tendo o planeta Terra enquanto pano de fundo e a humanidade enquanto principal aliada da equipe dos bonzinhos. Parando por aqui, afinal tem muito mais misturas, "Eu Sou o Número Quatro", 2011, apesar de ter ótimas misturas, o filme não se sustenta de tão fraco.

Após um incidente que praticamente o revelou ser um extra-terrestre, o agora denominado John Smith (Pettyfer) é obrigado a se mudar para Paradise, Ohio. Lá, ao mesmo tempo em que deve ser o mais invisível possível, vai para a escola justo em uma idade em que todos são absurdamente visíveis ou na turma de quem pratica ou de quem é vítima de Bullying. A situação tende a piorar na medida em que Smith vai se apaixonando por Sarah (Agron), que por sua vez não faz a menor resistência ao "bonitão desajustado". Sarah possui um ex-namorado agressivo, ciumento, capitão do time de futebol americano da escola (na verdade, o filme não explicita muito bem qual é o esporte que eles praticam. Deduzo que seja por conta de algumas cenas dele praticando seus trotes com uma bola de futebol oval). O ex-namorado de Sarah é o terror do nerd Sam (McAuliffe), que vai se tornando uma espécie de protegido de Smith. A situação piora significativamente pela existência dos Mogadorians - alienígenas que perseguem os outros alienigenas de Lorien, que matam sequencialmente e do qual Smith é o número quatro - a bola da vez.


Apesar de ser um filme romântico e adolescente, ele aparenta não ter coração. Tem uma mão pesada em cada sequência e em cada cena. Os personagens são mal elaborados, sempre optando por uma generalização clichê que chega a irritar. Há um bullying entre atletas e nerds, a mocinha tem todos os atributos para ser uma cheerleader, mas opta em ser fotografa. O desajustado se torna defensor do nerd contra a maldade dos humanos, que por sua vez irá se tornar o defensor do alienígena contra os malvados mogadorians (com aquele velho clichê: feio é igual a mal, bonito é igual a bom).


O filme é escuro, tanto para disfarçar inúmeros defeitos de fotografia e de interpretação quanto para reproduzir a atmosfera sombria do fenômeno Crepúsculo. E do além, servindo apenas como elemento de continuidade da saga (em uma busca insandecida para achar uma nova franquia como Harry Potter, Senhor dos Anéis, e Crepúsculo), temos a número seis (lembrem-se que há uma bobagem de se matar em sequência por parte dos Megadorians que é esquecida logo no primeiro encontro com a número seis) , uma louraça "belzebu" - como diria Fausto Fawcett - que surge, bate, encanta, e segue a caravana enquanto o número quatro resolve um dilema aqui ou acolá.


Há poucos instantes de boas escolhas. Algumas piadinhas e situações que cativam. Há uma química entre Pettyfer e Agron que convence. E nada mais do que isso. É um passatempo, daqueles facilmente esquecíveis.


Ósculos e amplexos!

"O Noivo da Minha Melhor Amiga", 2011: novelinha simpática.

"O Noivo da Minha Melhor Amiga" (Something Borrowed ) [EUA] , 2011 - 109 min. Drama/Romance Direção: Luke Greenfield Roteiro: Jennie Snyder Elenco: Ginnifer Goodwin, Kate Hudson, Colin Egglesfield, John Krasinski, Steve Howey



Não é a ideia do filme, mas o nome brasileiro que deram a ele que o faz relembrar "O Casamento do Meu Melhor Amigo", 1997. O título original é "something borrowed" que significa, em tradução livre, algo emprestado. Por causa da proximidade que o título brasileiro deu ao filme de Julia Roberts, esperamos assistir uma comédia romântica daquelas bem tranquilas, com piadas bem elaboradas, e com personagens apaixonantes. Porém, não se deve assistir um esperando ver o outro. "O Noivo da Minha Melhor Amiga" não possui sequer o mesmo enredo, a mesma história, nem mesmo o mesmo charme de Cameron e Julia (ainda que Goodwin seja daquelas que dá vontade de abraçar e nunca mais largar) em "O Casamento do Meu Melhor Amigo".


O filme, baseado no livro de Emily Giffin, conta a história de uma vida de anulações em nome de uma amizade até que o amor atravessa o caminho. Rachel (Goodwin) tem uma amizade desde tenra infância com Darcy (Hudson) digna de heroi e seu leal ajudante das histórias em quadrinhos. Enquanto Rachel é completamente dedicada à sua amiga, Darcy é completamente dedicada a si mesma. A separação de ambas se deu na faculdade, quando Darcy deixa de estudar em uma das mais difíceis universidades dos Estados Unidos simplesmente por Rachel não ter passado também. Porém, Rachel seguiu estudando Direito em uma outra faculdade, onde conheceu o charmoso e atencioso Dex (Egglesfield) e por ele se apaixonou. Tudo iria ocorrer bem se Darcy não aparecesse e, em um momento de insegurança de Rachel, ela acaba ficando com Dex. Em nome da amizade, Rachel se anula até que, dias antes do casamento de Darcy e Dex, ela revela ter uma queda pelo moço e que foi prontamente correspondida.


O filme fala em anulações o tempo todo [eis a principal diferença para o filme de Roberts, que é um filme de ambição justificada pelo amor]. Rachel se anula para ver Darcy feliz, Dex se anula para ver sua mãe feliz, Ethan (Krasinski) que se anula por um montão de coisas, e Darcy, que não se anula em nada. Porém, o filme se vende como comédia romântica, mas é um drama. E, como um drama, é previsível demais, sem carisma demais, sem ritmo demais. Nem mesmo a cena em meio aos créditos finais revela nada demais - talvez apenas uma certa continuidade, desnecessária. O melhor ator do filme é Krasinski, por demais sub-aproveitado. E Howey está perfeito como "pegador", mas de uma canastrice quase que cafona e que o filme o atura para dar sentido ao embolado e previsível final. Há ainda uma personagem desprezada o tempo todo por Ethan que, sinceramente, não tem a menor graça a crueldade gratuita que o filme apresenta. Tudo para que as idas e vindas do enrolado romance e vida de anulações tenha um final feliz.


Apesar de haver muita química entre Rachel, Dex e Darcy - aliás, Goodwin está apaixonante - o filme é sem nenhuma ousadia. Uma novelinha simpática, sem riscos ou impactos (talvez pela música "fake plastic trees", que sempre me derruba - sempre mesmo, conseguiu até com "Bruna Surfistinha", 2011).


Ósculos e amplexos!

"As Doze Estrelas", 2010: fraco, sem pé nem cabeça.



AS DOZE ESTRELAS (Brasil, 2010) Gênero: Drama Duração: 99 min. Elenco: Leonardo Brício, Cláudia Mello, Paulo Betti, Cássio Scapin, Munir Kanaan, Débora Duboc, Juliana Vedovato, Lívia Guerra, Paula Franco, Mylla Christie, Martha Meola, Grabrielle Lopez, Francisca Queiroz, Carla Regina, Leona Cavalli, Adriana Alves, Rosanne Mulholland, Sílvia Lourenço, Djin Sganzerla Compositor: André Moraes Roteirista: Luiz Alberto Pereira Diretor: Luiz Alberto Pereira.


Ainda bem que na exibição deste estava do meu lado minha queridíssima amiga Rafaela Rocha. Ela teve a gigante e honrosa paciência de me explicar as caracteristicas básicas que cada signo possui devido a minha certa ignorância sobre o assunto. E melhor definição sobre o filme veio justamente dela: - "filminho mais sem pé nem cabeça".


Herculano (Brício) é um astrólogo contratado para selecionar as atrizes que farão parte do elenco de "As Doze Estrelas", novela que será rodada em Paulínia. Após a visita do Destino (Betti), ele irá descobrir um pouco mais sobre cada signo de maneira incorporada em cada mulher. Entre um signo e outro, inúmeras situações surreais irão ocorrer com o astrólogo das estrelas.


Infelizmente, não há como se prolongar na sinopse. O fime acaba sendo uma apresentação de doze belíssimas atrizes, curiosamente cada uma do signo que interpretam (uma exigência do diretor para causar curiosidade, mas que tecnicamente não faz a menor diferença). E justamente por apresentar doze histórias, o desequilíbrio e a falta de ritmo incomoda demais o espectador. Para que a sinopse fosse um pouco mais rica, haveria de contar um pouco de cada uma das personagens - o que faria com que todo o filme fosse contado.


O filme nos dá muito pouco. Os personagens "não zodiacais" são por demais mal desenvolvidos, chegando a desaparecer. Não há como saber se Herculano é um bom astrólogo ou um charlatão. Aliás, ele nem sequer as seleciona, pois se limita a ser um mensageiro. Até mesmo os signos são abordados com uma superficialidade incrível, "exigindo algumas leituras básicas à João Bidu" - palavras de minha amiga Rafinha. Realmente, o filme é muito fraco. Apresenta mulheres maravilhosas com dotes físicos e teatrais fantásticos, mas nada além disso e de maneira por vezes rudes ao apresentar cenas eróticas e péssimos efeitos especiais.


Em tempo, quando não havia mais paciência alguma para o filme, novamente a minha amiga me salva do tédio: passamos a brincar de lembrar amigas em comum para comparar com as personagens apresentadas no filme (isso sim, realmente muito interessante e divertido).


Ósculos e amplexos - e para minha heroina Rafinha, meu muito obrigado!

"Como Arrasar um Coração", 2010: uma delícia de comédia-romântica.

"Como Arrasar um Coração" (L'Arnacoeur), 2010 [França, Mônaco] Direção: Pascal Chaumeil Atores: Romain Duris, Vanessa Paradis, Julie Ferrier, François Damiens, Helena Noguerra). Duração: 105 min Comédia Romântica



Alex Lippi (Duris) é um homem exótico, normalmente seria classificado como feio pelas brasileiras. Porém, dada sua postura logo no cartaz do filme, é possível ouvir suspiros até mesmo das mais exigentes desta terra descoberta por Cabral. É exatamente a ideia de Lippi: o embuste enquanto arma de sedução. Segundo ele, há três tipos de mulheres: as felizes, as infelizes, e aquelas que não sabem que são infelizes. E é para o terceiro tipo de mulher que seus serviços são contratados. Lippi é, na verdade, um sedutor de aluguel que costuma ser contratado para dissuadir mulhereres infelizes de se casarem com a fonte de suas frustrações. Como principais aliados, Lippi conta com sua irmã, Melànie (Ferrier), e seu cunhado, Marc (Damiens) - atrapalhados, porém uma espécie de faz-tudo. Porém, os negócios não vão nada bem. Manter o custo de seus personagens é caro, provocando dívidas imensas que o forçarão a um dilema ético: intervir no relacionamento perfeito da riquíssima filha de uma espécie de gangster francês, Juliette van der Becq (Paradis).


O filme nos informa o tempo todo de que se trata de uma comédia romântica, pois explora inteligentemente inúmeros clichês do gênero. Porém, ele renega, ao mesmo tempo, a cartilha de Hollywood. Ou melhor, Lippi sentia-se seguro com essa cartilha até que Juliette aparece em seu caminho e o faz de idiota. A brincadeira com o gênero não para por aí, destacando-se para a deliciosa situação no carro quando "malandramente" toca no rádio "Wake Me Up Before You Go-Go", da banda Wham! (que apresentou George Michael, lembrou?) e a coreografia imortalizada de Patrick Swayze e Jennifer Grey em "Dirty Dancing", 1987. Ainda mais, o filme é uma delícia tanto com a cara de Duris para provocar seu choro arrebatador quanto com a performance ninfomaníaca da espetacular Sophie (Helena Noguerra), amiga de Juliette. E mais, assim como Lippi, logo no início da exibição, nos informa que não há relação sexual com suas clientes, a tradicional apelação sexual inexiste. Sempre são situações em busca do beijo arrebatador que irá mostrar para a pobre moça o quanto ela está infeliz. "Merci" após o beijo é o real pagamento do sedutor Lippi.


É claro que o filme também tem seus tropeços. Curiosamente, o filme beira momentos de filmes de espionagem, Lippi apanha de brutamontes, mas não há nenhum bandido para fazer frente ao mocinho. Aliás, a reviravolta final é demasiadamente frágil, não convence, e busca um riso fácil que foi realmente desnecessário para as inúmeras situações provocadas ao longo de todo o filme. Também peca pelo tempo, tornando-se enfadonho várias vezes até que mais uma das várias viradas aconteçam ao longo da história. O filme não é necessariamente original (nem quer ser, chegando a brincar com isso), mas não acrescenta originalidade em momentos em que sobrava chance para o mesmo acontecer. Por fim, o filme é bastante comercial e tem o público dos Estados Unidos como clientela o tempo todo - o que o faz ser atípico para quem está acostumado com as comédias francesas.


Apesar das falhas, "Como Arrasar um Coração" é uma delícia de comédia-romântica. Mostra com muito charme Paris e Mônaco - sem nos fazer insignificantes em meio a tanto luxo e riqueza. Arranca risos gostosos e apresenta um frescor para um gênero tão frequentemente mal tratado por Hollywood.


Ósculos e amplexos!

"Os Agentes do Destino", 2011: Matt Damon corre, corre, corre, novamente.



"Os Agentes do Destino" The Adjustmen Bureau [EUA] , 2011 - 106 min. Ficção / Romance Direção: George Nolfi Roteiro: George Nolfi, Philip K. Dick Elenco: Matt Damon, Emily Blunt, Anthony Mackie, John Slattery, Michael Kelly, Terence Stam.


Matt Damon está condenado a correr sem para desde que fez a bem-sucedida trilogia Bourne. Este é mais um filme que gira ao redor do personagem de Damon e pouco nos toca sua história.


Damon interpreta o "congressista Norris", que de franco favorito para o Senado cai para um fim de campanha desastroso devido a publicação de embaraçosas imagens de quando aprontava na faculdade. Antes de seu discurso final, tem um encontro insólito no banheiro masculino com Elise Sellas (Blunt) que iria marcar para sempre o coração do congressista. Ela o inspira a um discurso improvisado que esculhamba toda a sua assessoria de marketing e que o permite a uma volta ao meio político em um futuro relativamente breve. Tudo ocorreria bem se um "adjustman", um ser com poderes "mágicos" responsável por cuidar para que as pessoas não saiam da suas rotas pré-destinadas, não tivesse dormido e assim criado uma senhora de uma fuga de destinos.


O filme pretende ser um thriller sobre arbítrio, liberdade, envolto em um clima de romance. Mas acaba sendo mais uma cansativa correria de Damon regada a muita frustração em meio a ação. Nada no filme se encaixa de maneira suave. Tudo é bruscamente despejado na tela, sempre subestimando a inteligência de quem assiste. Aliás, os "adjustmen", se não houvesse nenhuma explicação sobre o que eles são, talvez traria para o filme alguma inteligência.


A história não se sustenta, bem como seu desfecho é frágil. Apesar de haver química entre Blunt e Damon, eles não conseguem dar maiores substâncias para o romance entre a bailarina e o congressista. Além de fazer de Elise uma doida por casamento sem a menor necessidade. Tudo isso com saltos de tempos abusivamente longos e desnecessários, que servem apenas para irritar a quem assiste a trama.


Filme fraco, com clímax insatisfatório. Tem a seu favor somente a confusão da troca de ambientes em meio aos "abre e (quase nunca) fecha" de portas, que exploram de maneira interessante sensações distintas de espaço - muito pouco para o tanto que o filme se propõe e não apresenta.


Ósculos e amplexos!

"Tempo de Glória", 2004: romance SUD (mórmon).


"Tempo de Glória", 2004 (The Work and The Glory) [EUA] 110 minutos (1 hora e 50 minutos) Gênero:Drama / Romance Direção: Russell Holt Elenco:
Sam Hennings (Benjamin Steed) Brenda Strong (Mary Ann Steed) Eric Johnson (Joshua Steed) Alexander Carroll (Nathan Steed) Tiffany Dupont (Lydia McBride) Brighton Hertford (Melissa Steed / Narrador) Kimberly Varadi (Becca Steed) Colin Ford (Matthew Steed) Kathryn Firago (Hannah McBride) Jim Grimshaw (Josiah McBride) Jonathan Scarfe (Joseph Smith) Sarah Darling (Emma Smith) Edward Albert (Martin Harris) Ryan Wood (Hyrum Smith).



É complicado fazer a resenha de um filme com tamanho conteúdo religioso. Ainda mais que se trata de um filme ambientado na religião ao qual sou membro. Em praticamente todas as resenhas, sejam as brasileiras ou sejam as estrangeiras, há uma sobrecarga de amor e ódio sempre direcionada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias enquanto que para o filme propriamente dito pouco sobra. Assim, o crítico fica refém dos preconceitos: se achou o filme bom, é mórmon, se achou ruim, não é mórmon. Repentinamente, todo aquele que se prestar a avaliar este filme será avaliado. Assumo, então, o risco.


O filme é o primeiro de uma trilogia que conta a história da fictícia, mas que poderia ser real, família Steed, principalmente a dos irmãos Joshua e Nathan. Eles se mudam para Palmyra, NY, a fim de trabalhar em suas terras recém-adquiridas. Lá, entram em contato com a família Smith ao contratar os bons trabalhadores Hyrum e Joseph - esses reais. O problema é que a família Smith não é das mais bem quistas devido a visão que Joseph teve certo dia em um bosque. Conta o populacho que Joseph teria ouvido anjos lhe contarem sobre uma bíblia de ouro enterrada em algum lugar. Na verdade, Joseph teria visto dois personagens em meio a uma luz gloriosa. Seriam o próprio Deus e Seu Filho, Jesus Cristo, lhe dizendo que não deveria se afiliar a nenhuma igreja e que aguardasse novas instruções que lhe seriam dadas muito em breve. A bíblia de ouro que os populares tanto falavam são, na verdade, placas de ouro que seriam traduzidas por Joseph e que mais tarde seriam chamadas de "O Livro de Mórmon" - livro que é pedra angular de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, fundada por Joseph Smith. Poucos são os que acreditam em Joseph, mas são muitos os que o perseguem seja por preconceito ou seja pela ambição em roubar um livro de ouro.


Apesar de ser um filme em que Joseph Smith e sua igreja façam parte, é a história de Joshua e Nathan Steed o centro das atenções. Joshua vai aos poucos se tornando um problema para a família. Se une aos ladrões e trapaceiros Murdocks, e se torna um elemento foragido da polícia e altamente perigoso. Já Nathan acredita em Joseph Smith e se converte ao mormonismo junto com sua família (exceto Benjamin Steed, seu pai). A coisa entre os irmãos Nathan e Joshua se complica com o triângulo amoroso entre eles e Lydia McBride (Dupont), filha do rigoroso Josiah, dono do armazem.


O filme acaba sendo uma abordagem sobre a intolerância religiosa em uma época de imensos conflitos religiosos nos Estados Unidos. Trata-se de um período muito rico para a história dos Estados Unidos, e justamente neste ponto é que o filme começa a despencar por conta de suavizações de coisas que não poderiam ser suavizadas. Os longos e fervorosos debates das reuniões do "Grande Despertar" são suavizados a fim de se tornar mais confortável para quem o assiste - perdendo a ótima oportunidade de apresentar um Estados Unidos mais próximo de sua realidade. O filme é feito provavelmente por mórmons, pois as explicações são feitas inclusive em um linguajar muito conhecido pelos Santos dos Últimos Dias, mas praticamente desconhecido para os não membros. A fotografia, apesar de interessante, revela alguns defeitos irritantes. E há uma áura de perfeição conflitando com uma tentativa de humanização de Joseph Smith que não contribui em nada com o personagem.


Sem dúvidas, o filme é uma propaganda mórmon. Mas tem como vantagem mostrar um pouco mais sobre o drama das famílias que tiveram coragem de aceitar uma nova religião em uma época em que as religiões, novas ou tradicionais, provocavam mais e mais confusão. As famosas turbas contra Joseph Smith, no filme, tinham várias motivações além das quase sempre exploradas intolerância religiosa - como por exemplo, a crença de que poderia roubar um livro de ouro.


Para o cinéfilo, o filme não é dos melhores. Sua história acaba sendo sem maiores emoções. Tem um ritmo lento demais e abrange aspectos que realmente não contribui para o desenrolar nem do romance nem para os dramas familiares existentes.


Ósculos e amplexos!

"Queime Depois de Ler", 2006: um filme sobre o nada paranoico.



"Queime Depois de Ler" (Burn After Reading) [EUA] , 2008 Comédia Direção: Joel e Ethan Coen Roteiro: Joel e Ethan Coen Elenco: George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich, Brad Pitt, Tilda Swinton, J.K. Simmons, Richard Jenkins, David Rasche, Olek Krupa


O filme é sobre nada. Isso mesmo. Um nada paranoico presente entre um grupo de idiotas dos mais diversos tipos. Osbourne Cox (Malkovich) não é um agente da CIA, mas um analista de nível três que acaba de pedir sua demissão por não aceitar sua remoção para um posto ainda mais burocrático. Ele tem um iminente fim de casamento com Katie (Swinton), que não é uma aristocrata. Ela, por sua vez, tem um caso extraconjugal com Harry (Clooner) - que na verdade não é um relacionamento como todo extraconjugal. Harry ainda investe em outras desesperadas solteiras que colocam seu perfil em um desses sites de encontro. Um delas é Linda (McDormand), atendente de uma academia que vive em busca de cirurgias plástica para ser o que não é: sexy e perfeita. Ela é companheira de trabalho do idiota Chad (Pitt), que encontra na academia um CD contendo dados contábeis e o primeiro capítulo de um livro de ficção baseada nas memórias de Osbourne Cox - fechando o falso ciclo - mas que Chad e Linda acham ser documentos de espionagem.


Tudo é uma sátira ao gênero Policial/Espionagem. Porém, é de uma sutileza tal que a graça das situações cômicas se perdem com facilidade. A história é enrolada, desnecessariamente. A atuação pateta dos personagens revelam ser uma forma péssima de mal aproveitar um elenco realmente estelar. Mas é um filme premiadíssimo, o que confunde quem deseja resenha-lo. Fiquei o tempo todo me perguntando: afinal, de onde tiraram que o filme é bom?


Pessoas inteligentes dizendo coisas inteligentes não fazem um filme inteligente por si só. Tampouco quando as situações estúpidas a que elas se sujeitam não provocam absolutamente nada no espectador. Nem sequer uma torcida por qualquer um dos idiotas que vivem o nada da trama parece sucitar em quem assiste. A sensação de frustração seja talvez a única coisa que provoca. A cada sequência, alguma coisa vai para o brejo.


Malkovich está muito bem enquanto vemos sua decadência em todos os aspectos, principalmente no figurino. Porém o filme se propõe a ser uma sátira e o único a de fato apresentar alguma sátira ou mesmo comicidade é Brad Pitt.


O filme não é de nada, infelizmente!


Ósculos e amplexos!

"O Mágico", 2010: complexo, apesar da simples narrativa.



"O Mágico" (L'Illusionniste) [França / Reino Unido], 2010 - 90 minutos Animação / Comédia / Drama Direção: Sylvain Chomet Roteiro: Sylvain Chomet, Jacques Tati

Foi quando Tatischeff entrou no cinema e viu uma cena de "Mon Oncle", 1953, foi que percebi a homenagem à Jacques Tati. Até então, eu estava buscando desesperadamente me acostumar com o ritmo absurdamente lento que Chomet tem como marca (lembram-se de As Bicicletas de Belleville, 2003 ?). Neste exato momento, quase se encaminhando ao fim do filme, é que pude perceber duas coisas: primeiro, as pessoas continuam achando que animação é coisa para criança e, segundo, mesmo percebendo que não se trata de uma atração infantil insistem em manter as crianças na sala. Pobres crianças, foram apresentadas a um universo triste, melancólico, do qual elas mesmas são antagonistas.

O filme apresenta a melancólica vida de Tatischeff, ilusionista em decadência que vê a velha arte sendo substituída por atrações mais joviais. Ele vai perdendo espaço para atrações como bandas de rock em uma Europa pós-guerra. Após aceitar o convite de um bêbado, aparentemente o único a gostar de sua apresentação em Londres, o mágico vai para uma pequena cidade na Escócia onde se apresentará em uma taberna. Lá ele conhece Alice, que ao ver a dura condição de vida da menina, lhe compra sapatos novos. A partir de então Alice se encanta com Tatischeff e foge para acompanhá-lo em sua miserável turnê. Tatischeff não quer estragar a crença que Alice possui nele, e juntos vão morar em Edimburgo - cidade da qual nunca o tempo passa. Já nessa cidade, vão viver entre outros artistas de antigamente em um hotel de frente ao Teatro. Mas Tatischeff tem que assumir novos empregos e aceitar apresentações em lugares cada vez menos glamurosos a fim de sustentar a magia pela qual Alice tanto acredita.

O encontro entre Tati e Chomet é lindo, apesar de muito, mas muito lento. Todo pintado à mão, possui uma qualidade gráfica que nos enche os olhos. Aos poucos, Londres, Paris, Edimburgo vão se tornando lugares comuns a nós. Há críticas sociais em pequenos frascos semióticos como a representação do consumismo nas apresentações do mágico em vitrines. E, mesmo que sejam três idiomas (francês, galês, e inglês), não há legenda - e sinceramente não há a menor necessidade delas. Vamos mergulhando em uma tristeza sem fim, vamos assistindo a velha arte sendo enviada para a sarjeta. Um filme complexo, apesar da sua simples narrativa.

Ósculos e amplexos!



"As Brigadas do Tigre" (Les Brigades du Tigre) [França], 2006 Diretor: Jérôme Cornuau Roteiro: Claude Desailly, Xavier Dorison, Fabien Nury Foto: Cami Stéphane Música: Olivier Floriot Elenco: Clovis Cornillac (Valentin), Diane Kruger (Constância), Edouard Baer (Pujol), Olivier Gourmet (Terrasson), Stefano Accorsi (Bianchi), Jacques Gamblin (Bonnot), Thierry Fremont (Piotr), Léa Drucker (LEA), Aleksandr Medvedev (Prince Radetsky), Gérard Jugnot (Faivre), Didier Flamand (Prefeito Le), Philippe Duquesne (Cagne) Duração: 125 min.

Baseado em uma série de televisão de grande audiência na França entre 1974 e 1983, "As Brigadas do Tigre", 2006 encerram a série de superproduções francesas do começo do novo milênio (Belphégor, 2001, Vidocq, 2001 e Arsène Lupin,2004). Conta a história de uma brigada móvel criada em 1907 a fim de diminuir a grande onda de crimes que há na França em sua Belle Époque.

Infelizmente, a série não passou no Brasil e é praticamente impossível de achar alguma coisa por um preço acessível para que possamos compará-los por aqui. Uma espécie de "Os Intocáveis" francês, o filme tem consistência em sua trama. Em cada cena, descobre-se uma peça no quebra-cabeças. Além disso, há bastante e interessantes combates entre membros da brigada em meio a anarquistas e polícia parisiense (corrupta e sempre um passo à frente). Até mesmo um sério problema de ritmo que a produções possui é quebrada por muito bem pensados confrontos de tirar o fôlego. Tem um elenco de primeira linha, além da beleza e a grande atuação de Diane Kruger que é de se encher os olhos.

O filme tem problemas para começar e por vezes é um tanto tedioso. Cornillac faz um jovem comandante eternamente carrancudo que não convence, ainda que em combate tem sua atuação marcante. As cores não valorizam muito elementos da Belle Époque e há tropeços históricos irritantes (como a ideia de um policial sentar-se à mesma mesa que um príncipe russo). Porém, o filme é bom sem apelações e banhos de sangue. Não há a irritante morte fácil e a maioria dos combates são físicos - na base do soco. Tem um excesso de personagens que faz com que muita ponta fique solta, mas se deve dar a chance destes personagens serem explicados pela memória daqueles que assistiam a série nos anos 70 e 80.

Um atraente filme policial com o charme de uma Paris do começo do século XX.

Ósculos e amplexos!