sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Inverno da Alma", 2010: um olhar diferente sobre os EUA.


"Inverno da Alma" (Winter's Bone) [EUA] , 2010 - 100 minutos Direção: Debra Granik Roteiro: Anne Rosellini, Debra Granik, Daniel Woodrell (romance) Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Kevin Breznahan, Garret Dillahunt, Lauren Sweetser


Uma das coisas que mais me provocam quando assisto a uma produção independente dos EUA é o quanto ele mostra sobre os Estados Unidos. Provoca, pois, apesar de uma maioria esmagadora de filmes que assistimos serem produzidos inteiramente por lá, pouco Hollywood nos mostra sobre a vida dos estadunidenses. Assistir a um filme como "Inverno da Alma" para um brasileiro não é coisa fácil, pois requer uma pesquisa um pouco mais observadora sobre a dura realidade de muitos estadunidenses - principalmente a de seus trabalhadores. Isso explica o motivo pelo qual tantos e compententíssimos críticos fizeram resenhas tão rasas sobre esse filme.

Os mesmos críticos, consideravelmente melhores do que eu, avaliaram como exagero "Inverno da Alma" ter sido indicado para tantos prêmios, inclusive Sundance e Oscar. Mas, o "zeitgeist" do cinema-arte estadunidense desde o 11 de Setembro é o mesmo: apresentar ao mundo o verdadeiro heroi americano, ou seja, seu sofrido povo trabalhador. Como o público para tal é restrito, isso explica a verdadeira onda de independentes que venham dos EUA.

Em geral, a sinopse que encontramos não ajuda em nada. Ela geralmente é descrita assim: Ree (Lawrence), de 17 anos, é a única responsável por uma mãe catatônica e duas crianças que, de uma hora para outra, se vê em uma corrida contra o tempo para encontrar seu pai para que o terreno e tudo mais o que houver sobre ele não sejam tomados pela justiça. Não ajuda, pois, apesar de ser isso mesmo o filme, ele revela muitíssimo mais do que isso.

A história se passa nas rústicas montanhas do Missouri. O filme é rústico e cru como tal. Nessa região, uma verdadeira epidemia de crystal meth vem mudando a paisagem e seu povo - uma anfetamina cerca de seis vezes mais barata que a cocaína e que pode ser fumada, cheirada, injetada, ou simplesmente mascada e que tem seus ingredientes encontrados em uma mistura de derivados da amônia e elementos encontrados em remédios e xaropes para gripe. Pacatos lenhadores vão se transformando, aos poucos, em traficantes. Simples aldeões tem suas saúdes e famílias sendo destruídas ora pelo consumo dessa droga, ora pelo envolvimento com o mundo do crime com entorpecentes. E é exatamente sobre isso que o filme trata: a destruição de uma família por conta desta droga.

Lentamente vamos acompanhando a angústia de Ree. Vamos acompanhando sua família que se nega prestar qualquer tipo de informação sobre seu desaparecido pai. Vemos uma tortura diferente na adolescente para cada passo que ela consegue avançar. Vamos conhecendo um Estados Unidos que nega oportunidade para essa menina - que não pode contar com a polícia, nem com a família, e tampouco com o Estado; o primeiro quer despejá-la, o segundo calá-la, e o terceiro enviá-la para a guerra por 40 mil dólares (que poderá demorar até 84 meses para ser pago). Tudo isto em uma interpretação profunda e muito convincente de Lawrence.

Não há rápidas reviravoltas ou epifanias apelativas. O filme tem uma toada do começo ao fim. E sofremos calados junto com a protagonista.

Os prêmios não enlouqueceram, o filme realmente é muito bom!

Ósculos e amplexos

2 comentários:

  1. Na minha opinião esse foi o melhor da safra do Oscar. O único que realmente vai ficar para posteridade como um grande filme.

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  2. Taquaral,
    Talvez a injustiça com este filme nunca seja desfeita se dependermos de Oscar. O filme é por demais denso para o público que o Oscar privilegia. Não sei dizer se este foi o´melhor da safra, pois meu predileto (Cisne Negro) também foi de bom tamanho. De qualquer maneira, quem ganhou foi o plástico (bom, mas plástico - parece feito para ganhar prêmios) O Discurso do Rei.
    Obrigado pela sua visita - amplexos!

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