sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Inverno da Alma", 2010: um olhar diferente sobre os EUA.


"Inverno da Alma" (Winter's Bone) [EUA] , 2010 - 100 minutos Direção: Debra Granik Roteiro: Anne Rosellini, Debra Granik, Daniel Woodrell (romance) Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Kevin Breznahan, Garret Dillahunt, Lauren Sweetser


Uma das coisas que mais me provocam quando assisto a uma produção independente dos EUA é o quanto ele mostra sobre os Estados Unidos. Provoca, pois, apesar de uma maioria esmagadora de filmes que assistimos serem produzidos inteiramente por lá, pouco Hollywood nos mostra sobre a vida dos estadunidenses. Assistir a um filme como "Inverno da Alma" para um brasileiro não é coisa fácil, pois requer uma pesquisa um pouco mais observadora sobre a dura realidade de muitos estadunidenses - principalmente a de seus trabalhadores. Isso explica o motivo pelo qual tantos e compententíssimos críticos fizeram resenhas tão rasas sobre esse filme.

Os mesmos críticos, consideravelmente melhores do que eu, avaliaram como exagero "Inverno da Alma" ter sido indicado para tantos prêmios, inclusive Sundance e Oscar. Mas, o "zeitgeist" do cinema-arte estadunidense desde o 11 de Setembro é o mesmo: apresentar ao mundo o verdadeiro heroi americano, ou seja, seu sofrido povo trabalhador. Como o público para tal é restrito, isso explica a verdadeira onda de independentes que venham dos EUA.

Em geral, a sinopse que encontramos não ajuda em nada. Ela geralmente é descrita assim: Ree (Lawrence), de 17 anos, é a única responsável por uma mãe catatônica e duas crianças que, de uma hora para outra, se vê em uma corrida contra o tempo para encontrar seu pai para que o terreno e tudo mais o que houver sobre ele não sejam tomados pela justiça. Não ajuda, pois, apesar de ser isso mesmo o filme, ele revela muitíssimo mais do que isso.

A história se passa nas rústicas montanhas do Missouri. O filme é rústico e cru como tal. Nessa região, uma verdadeira epidemia de crystal meth vem mudando a paisagem e seu povo - uma anfetamina cerca de seis vezes mais barata que a cocaína e que pode ser fumada, cheirada, injetada, ou simplesmente mascada e que tem seus ingredientes encontrados em uma mistura de derivados da amônia e elementos encontrados em remédios e xaropes para gripe. Pacatos lenhadores vão se transformando, aos poucos, em traficantes. Simples aldeões tem suas saúdes e famílias sendo destruídas ora pelo consumo dessa droga, ora pelo envolvimento com o mundo do crime com entorpecentes. E é exatamente sobre isso que o filme trata: a destruição de uma família por conta desta droga.

Lentamente vamos acompanhando a angústia de Ree. Vamos acompanhando sua família que se nega prestar qualquer tipo de informação sobre seu desaparecido pai. Vemos uma tortura diferente na adolescente para cada passo que ela consegue avançar. Vamos conhecendo um Estados Unidos que nega oportunidade para essa menina - que não pode contar com a polícia, nem com a família, e tampouco com o Estado; o primeiro quer despejá-la, o segundo calá-la, e o terceiro enviá-la para a guerra por 40 mil dólares (que poderá demorar até 84 meses para ser pago). Tudo isto em uma interpretação profunda e muito convincente de Lawrence.

Não há rápidas reviravoltas ou epifanias apelativas. O filme tem uma toada do começo ao fim. E sofremos calados junto com a protagonista.

Os prêmios não enlouqueceram, o filme realmente é muito bom!

Ósculos e amplexos

"Hop: coelho sem páscoa", 2011: inadequado para maiores.


"Hop: Coelho sem Páscoa" (Hop ), [EUA] , 2011 - 95 min. Infantil Direção: Tim Hill Roteiro: Cinco Paul, Ken Daurio, Brian Lynch Elenco: Russel Brand, James Marsden, Hugh Laurie, Kaley Cuoco, Elizabeth Perkins, Gary Cole, David Hasselhoff



Para quem foi assistir pensando em ver a mesma genialidade de "Meu Malvado Favorito, 2010" vai sair um tanto quanto decepcionado. Os amarelinhos de "Hop" não se aproximam em nada dos amarelinhos de "Meu Malvado". E para quem foi assisti-lo pensando em ver um "Alvin e os Esquilos, 2007", irá descobrir que "Hop" é um pouquinho melhor que o fraquíssimo Alvin. De qualquer maneira, o filme é desaconselhável para adultos. Sua fofura toda é inteiramente destinada para crianças - que juro que as vi no cinema bocejando.

A páscoa deveria ser no calendário cristão a data mais importante dada a imensa importância que expiação do Senhor significa, porém o apelo comercial faz com que o natal seja uma data consideravelmente mais comemorada. Trata-se apenas de uma observação que, no máximo, poderia causar reflexão sobre como há apropriações e subversões de acordo com o lucro que se pode explorar disso. Não há o menor sentido em criar uma rivalidade entre duas datas do calendário cristão. Porém, em nome do lucro, o filme é feito para explorar o apelo do período de páscoa e ao longo da exibição é possível ver que essa rivalidade aparece o tempo todo e se propondo a ser muito mais do que uma brincadeira. Colocar pintinhos no lugar de renas é de um mau gosto imenso.

Saindo do contexto religioso, o filme não convence. Não é propriamente engraçado, chega a ser chato. É enjoativo de tão doce e a solução para cada momento de conflito é completamente sem sal. Há uma ou outra tirada ocasionalmente divertida (como David Hasselhoff não se surpreender com um coelho falante uma vez que ele era "Michael" de "Supermáquina"). Os atores humanos são sub-aproveitados. E as "Boinas Rosas" são uma imensa perda de tempo, já que nem sequer chegam a ser personagens.

Ao final da sessão, pensei comigo se o filme convenceria menores de 10 anos de idade. Mas o comentário de um representante desta faixa etária que estava por lá esgotou todas as expectativas. Ele perguntou sabiamente à sua mãe: - já que há um teletransporte para os coelhos, para quê serve um trenó puxado por filhotes de galinha?

Viva a sinceridade quase que cruel das criancinhas! Ósculos e amplexos!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Ah o Amor" (Ex), 2009: bela comédia-romântica italiana.







"Ah o Amor" (Ex), 2009 (Itália) Diretor: Fausto Brizzi Elenco: Claudio Bisio, Nancy Brilli, Cristiana Capotondi, Cécile Cassel, Fabio de Luigi, Alessandro Gassman, Claudia Gerini, Flavio Insinna, Silvio Orlando, Martina Pinto, Carla Signoris, Gian Marco Tognazzi, Giorgia Würth, Malik Zidi. Produção: Fulvio Lusciano, Federica Lusciano Roteiro: Fausto Brizzi, Massimiliano Bruno, Marco Martani Fotografia: Marcello Montarsi Trilha Sonora: Bruno Zambrini Duração: 120 min. Gênero: Comédia Romântica Distribuidora: Art Films/ Serendip Filmes Estúdio: Italian International Film / Italian International Film / Mes Films / Paradis Films / Rai Cinema Classificação: 14 anos





Por mais que seja impossível de ser preciso, todo mundo sabe quando pega gripe e a solução perfeita para um relacionamento. Quando o assunto é fim de relacionamento então, sobram teorias e teóricos do coração partido. E, como em um teatro, "ah o amor" vai desmontando cada uma dessas teorias.

Temos nada menos do que seis casais que, de uma maneira ou outra, encerram seu relacionamento. Abre-se com a história do psicólogo Sergio (Claudio Bisio) que defende a tese de que o amor não dura mais do que mil dias - obviamente um divorciado e que terá que se virar com suas filhas adolescentes depois da morte acidental de sua ex-esposa. Depois, a de um casal -Filippo (Vincenzo Salemme) e Caterina (Nancy Brilli) - que briga na justiça não pelo divórcio, mas pela inversa guarda de seus filhos - ninguém quer ter essa responsabilidade após a separação. Outro é sobre o processo de separação do próprio juiz do caso anterior - Luca (Silvio Orlando) e Loredana (Carla Signoris). Outro casal surge de uma situação complexa, Elisa (Claudia Gerini) reencontra o que seria o homem de sua vida sob a batina daquele que irá celebrar o casamento dela com Corrado (Gianmarco Tognazzi), ou seja, o padre (Angelo Infanti) tinha sido o seu grande namorado nota 10. Outro casal é composto, na verdade, por um triângulo terrível onde um ex-namorado e policial barra pesada atormenta a vida do atual namorado daquela que ele considera o amor de sua vida. E, por fim, o único casal que não está na Itália, tem que se deparar com a distância entre Paris e Nova Zelândia por conta de uma promoção no emprego dela. Tudo isso entre o natal e o dia dos namorados (que na Itália é em 14 de fevereiro).

É uma comédia que, apesar do acréscimo sufixo de romântica, não deixa de ser italiana. Também não tem a pretenção de ser felliniana (praticamente única referência que temos sobre comédia italiana aqui do outro lado do Atlântico). E, apesar da água com açúcar tradicional do gênero ter sido mantido, é uma delícia de ver os encontros e desencontros. E na medida em que vão se desenrolando as histórias, vamos nos vendo torcendo para que todas as teorias sobre relacionamento apresentadas no começo do filme sejam, uma a uma, desfeitas. Quando vemos, até mesmo nossas próprias teorias sobre o fim de relacionamento vão para as cucuias.

O filme apresenta uma nova geração de atores italianos (sinceramente, não reconheci nenhum, exceto o maravilhoso Silvio Orlando). Inclusive, até o próprio filme brinca com isso ao ter um dos casais morrendo de tédio ao longo de uma apresentação de uma famosa cantora italiana "das antigas". Interpretações bem italianas, mas que não se rendem à fácil e incômoda "italianisse caricata" e preconceituosa. São todos, a sua maneira, finais de relacionamento bem contadas na telona e que poderia ser reproduzida na vida de qualquer casal ao redor do planeta. Aliás, são histórias que, de tão bem elaboradas, poderiam cada uma delas gerar um filme todo próprio.

A minha única reclamação é a de que o desenrolar da trama demora muito para chegar ao seu fim. As duas horas de exibição cansam um pouco. E tão somente no dia seguinte é que o cansaço passa e a gente se dá conta da mensagem que o filme quer passar. Mas, sem dúvida, um excelente entretenimento.

Ósculos e amplexos!

"O Fiel Camareiro", 1983: quem é o protagonista, afinal?


"O Fiel Camareiro" (The Dresser) , 1983 (Inglaterra) Direção: Peter Yates Atores: Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Zena Walker. Duração: 113 min Gênero: Drama



Apesar de ser um filme direcionado à classe artística, principalmente a teatral, ele acaba sendo muito mais do que isso. Ele acaba sendo um genuíno tratado sobre a senilidade. Como pano de fundo, temos o próprio formato das companhias shakespearianas de teatro inglês em seus últimos dias no começo do século passado. Não se faz mais teatro dessa forma, extinguiu-se junto com a Segunda Guerra Mundial - tempo em que ocorre o filme.

"Sir" Donald Wolfit (Albert Finney), que na versão dublada recebeu um singelo e bobo pronome de senhor, apesar de ser o principal ator da companhia shakespeariana, não é o protagonista deste filme. O grande personagem é seu "companheiro" - o trocadilho do qual camareiro também significa em lingua inglesa, mas que não tem a mínima semelhança conotativa no Brasil - que atende pela alcunha de Norman (Courtenay).

O camareiro não é apenas o único amigo do intragável Sir, ele praticamente é a alma da companhia. Essa, que diga-se de passagem, é criada, dirigida e que tem como único ator de verdade nada mais nada menos que o próprio Sir. O grupo percorre a Inglaterra dispensada de servir na Guerra para servir o povo com o que há de melhor. E assim, um dia se está em uma cidade interpretando Otelo e no outro seguinte se está em outra cidade interpretando Rei Lear ou Ricardo III. E, em meio a esta pesadíssima rotina, tão somente o quase-abnegado, mas sem dúvida dedicado Norman sabe o que se deve interpretar e como tratar a estrela e alma da companhia. Norman é ainda massagista, consultor sentimental, analista, e espanta-espertalhona. Enfim, a vida de Norman passa a ser tudo o que houver Sir em seu centro.

O filme é praticamente inteiro rodado entre o camarim e a cochia - exceto pela cena da estação de trem, que é preciso de um estudo inteiro para explicá-lo para quem não viu o filme. Há personagens muito bem construídos, mas é a relação entre Norman e Sir que se é detalhado em um grau de sofisticação imenso - além do espetáculo de interpretação que ambos atores dão (inclusive, ambos indicados ao Oscar). Há ainda inúmeros detalhes da vida no teatro como desejar "merda" e não provocar azar ao pronunciar em voz alta a palavra "Macbe--" (melhor ficarmos na segurança e dizer apenas "Tragédia Escocesa" - senão, vá até lá fora e dê três voltas ao redor de si mesmo).

Enfim, um filme intenso, denso, que transpõe o esforço de interpretação que o teatro exige para a "cochia" do cinema. E com um final que nos faz refletir até quando a abnegação e o egoísmo convivem.

Ósculos e amplexos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Meu Malvado Favorito", 2010: Há tempos não se ria tanto com uma animação.


"Meu Malvado Favorito" (Despicable Me) [EUA/França] , 2010 - 95 min. Animação / Infantil Direção: Pierre Coffin, Chris Renaud Roteiro: Ken Daurio, Cinco Paul Elenco: Steve Carell, Jason Segel, Russell Brand, Kristen Wiig, Julie Andrews, Will Arnett, Danny McBride, Jemaine Clement, Miranda Cosgrove, Jack McBrayer, Mindy Kaling, Ken Jeong



Há tempos não se ria tanto com uma animação americana, digo, francesa. Ok, animação quase que inteiramente francesa, mas que a produtora foi comprada pela americana Universal. Mas isso realmente pouco importa. É uma animação daquelas que te faz rir do começo ao fim do filme.

Em um primeiro momento, aparenta ser mais uma velha e batida animação com choque de gerações enquanto pano de fundo. Mas não é. É a insanidade dos vilões sendo testada ao extremo por angelicais criancinhas. "É tão fofinho"! - frase de uma das crianças, revela a inocência cruel das criancinhas (como em "Só as mães são felizes" do Barão Vermelho). Ainda há os mineradores (os bichinhos amarelinhos) que são um importante elemento humorístico do filme.

Realmente o filme não necessita de uma crítica mais profunda. É para se assistir, rolar de rir, e voltar para casa mais leve após ter gargalhado tanto.

Ósculos e amplexos!

"Avatar", 2009: eu vejo você.


Avatar (Idem) [EUA] , 2009 - 162 minutos Ação / Aventura / Ficção científica Direção: James Cameron Roteiro: James Cameron Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Stephen Lang, Sigourney Weaver, Michelle Rodriguez, Giovanni Ribisi


Não é um filme genial, mas é um senhor entretenimento. É por demais superficial em sua narrativa, mas consegue ser profundo no que diz respeito à dualidade que se propôs abordar. O tempo todo, o espectador tem a impressão do já vi isso em outro filme, em outras produções bem melhores e de maneira melhor abordada, mais completa. Mas, ao mesmo tempo, dificilmente se viu todas reunidas em um único filme e de maneira convincente. É um filme bom, e ao mesmo tempo um entretenimento excelente.

As dualidades da história estão presentes o tempo todo e de maneira bem hollywoodiana. Ou seja, linear ao extremo, mastigado para que o espectador não tenha muita dificuldade para pensar sobre o que esta vendo. Mas, ao mesmo tempo, joga de maneira sutil alguns questionamentos intrigantes. Entre eles, o maior: a impossibilidade de uma solução equilibrada entre a economia e a ecologia. E tudo isso em imagens tridimensionais e efeitos especiais de tirarem o fôlego (e fazer você sentir sapecado com as brasas, ou querer espantar os insetos).

O filme não é ousado no que diz respeito à algumas fórmulas do cinema. O romance piegas é marca registrada do diretor James Cameron (lembrem-se de Titanic). A ideia do personagem ser um nada no mundo humano e, em um passe de mágica, ser toda a diferença em um mundo paralelo já fez sucesso em filmes e histórias mais do que batidas (a grande essência de Harry Potter, que os produtores acabaram esquecendo ao longo da saga do bruxinho). Até mesmo o túnel de luz que é atravessado para se conectar com o avatar é idêntico ao de "Quero ser John Malkovich". Mas estão todos esses elementos reunidos em um só filme. Quando a conexão é feita, seja entre o homem e seu avatar, seja o Na'Vi com a própria natureza, a dilatação da pupila do grandalhão azul acaba convencendo e passando por sobre todos esses sentimentos de falta de originalidade em meio a um visual tridimensional fenomenal.

Os próprios atores acabam intrigando. A personagem totalmente digital tem uma atuação consideravelmente melhor que a de muito ator que está no filme sem maiores efeitos especiais. Ao mesmo tempo, o vilão, constante o tempo todo, consegue fazer com que a plateia sinta ódio do sujeito. Enfim, o filme é longo, mas flui com uma tranquilidade imensa que saímos do cinema com vontade de querer saber mais sobre Pandora, o planeta em que a historia é narrada.

É um filme que somente em cinema 3D pode ser apreciado. E há a necessidade de assistir mais de uma vez para poder captar ao máximo todos os seus detalhes digitais e tridimensionais. Aliás, outra marca registrada de Cameron: a toalha da mesa é mais importante que o café da manhã. Mas, que toalha de mesa!

Ósculos e amplexos!

The sex and the city 2: elas estão de volta!


"Sex and the City 2" (idem) [EUA] , 2010 - 146 minutos Comédia / Romance Direção: Michael Patrick King Roteiro: Michael Patrick King Elenco: Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Kim Cattrall, Chris Noth, David Eigenberg, Evan Handler, Willie Garson, Mario Cantone, Liza Minnelli, Penélope Cruz, Miley Cyrus, Jason Lewis



Elas estão de volta! O segundo filme sobre Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda chegará nas telonas dia 28 de maio. E, por melhor ou pior que seja, irá contar um pouco mais sobre as quatro amigas que revolucionaram o modelo sitcom (comédia de situação) e se tornaram referências para se observar o complexo universo feminino.

Para quem não sabe do que se trata - provavelmente por ter passado os últimos 12 anos em Marte -, o filme é a continuação das histórias da série (saga) homônima que foi exibida pela HBO entre 1998 e 2004 (no Brasil entre 2002 e 2004, com cortes das cenas mais picantes e episódios mais polêmicos - um "The Sex and the City" light). Ao todo, são mais de 45 horas de programa, divididos em 94 episódios, exibidos em seis temporadas e um filme para o cinema. Trazia a história de quatro mulheres solteiras, bonitas, inteligentes, sexualmente bastante ativas, e com idades entre 30 e 40 anos. Sem nenhum exagero, um Balzac contemporâneo e multimidiático.

A série revolucionou o sitcom com o assassinato das insurportáveis claques - as risadas e aplausos de fundo, que simulava uma "interação" com o público; e com a saída do estúdio e explorando toda a cidade para o cenário das histórias. Mas, foi mais além, soube partir de uma estereotipação de seus personagens, mas foi com o decorrer do tempo amadurecendo-os. Ao invés de fixos estereótipos, as personagens foram construídas à partir dos anseios e características típicas do imaginário feminino, e na medida em que iam vivendo suas aventuras, agregavam novas características e inovando seus personagens.

Ainda que tenha revolucionado o sitcom, não é esse elemento o que provocou tanta paixão tanto por mulheres quanto homens pela série, mas todo um conjunto que apresentou o novo universo feminino do século XXI. Definitivamente não é um olhar feminista, inclusive há uma certa rejeição ao complexo e multifacetado movimento de mulheres. É uma nova balzaquiana, ou melhor, quatro diferentes "balzacas" apresentando diferentes pontos de vista para os mesmos temas. São mulheres solteiras, emancipadas, de classe média, com suas virtudes, vícios e muitos impulsos consumistas. São mulheres que lidam com seus problemas sozinhas ou somente com o apoio de suas amigas. Que vivem na charmosa Nova York, que desfrutam de todas as vantagens de se viver na metrópole mais cosmopolita do mundo. Mas que ao mesmo tempo buscam um amor para que tudo isso torne suas vidas completas e mais feliz. E fundamentalmente: é uma série divertida e inteligente!

Outra coisa que me chama bastante a atenção em The Sex and the City é que, ao mesmo tempo em que pode ser resumido em sexo, comportamento e consumismo, é também uma grande injustiça em resumir a série de tal forma. É uma série sobre mulheres que compram o que querem, fazem sexo com quem querem, alcançam os objetivos profissionais que traçam, frequentam lugares concorridos ou simples que desejam, e enfrentam e superam doenças e decepções, mas que temem ficar sozinhas. A instabilidade feminina é demonstrada com um humor incrível, ao mesmo tempo em que manda um recado para os homens: se quer ter uma mulher de verdade em sua vida, deve simplesmente aceitar suas instabilidades e aprender a conviver com elas. São mulheres que condenam o patriarcalismo tradicional, ainda que não consigam se desprender dele (elas são por diversas vezes patriarcalistas radicais, por vezes bastante preconceituosas, ainda que condenem ambos com veemência). São mulheres desprovidas de pudores sexuais e afetivos, mas que se tornam infelizes e neuróticas sem a presença de um parceiro.

Por fim, a série e o primeiro filme deu um final feliz para as quatro amigas. Não deu para todas o casamento enquanto desfecho para o "felizes para sempre", mas trouxe o parceiro para cada uma delas. O segundo filme irá explorar o que acontece depois do "felizes para sempre". Irá explorar a vida após o casamento. Irá explorar outro lugares, e o olhar feminino sobre o diferente (inclusive a espinhosa abordagem sobre a cultura árabe). Uma série que virou filme, um filme que fechou a saga, uma continuação que promete pelo menos matarmos as saudades das quatro amigas que se tornaram referência tanto para a linguagem do sitcom quanto para a mulher do século XXI.

Ainda que eu me irritasse com algumas futilidades e outras coisas, no geral, adorava a série e estou ansioso para ver o resultado do segundo filme.

Ósculos e amplexos!

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Dedico esse post para minha querida amiga, verdadeira irmã, Priscila (fã incondicional de The Sex and The City).

"Comer, rezar, amar", 2010: uma opinião.


"Comer, Rezar, Amar" (Eat Pray Love) [EUA] , 2010 - 133 min Drama / Romance Direção: Ryan Murphy Roteiro: Ryan Murphy, Jennifer Salt Elenco: Julia Roberts, Billy Crudup, James Franco, Richard Jenkins, Javier Bardem, David Lyons, Christine Hakim, Anakia Lapae, T.J. Power, Tuva Novotny, Hadi Subiyanto, I. Gusti Ayu Puspawati, Viola Davis, A. Jay Radcliff, Mike O'Malley



A seu favor, um livro envolvente. Contra, um filme duvidoso. Quem lê o livro tem a seu favor um pouco mais dos personagens da história. Para quem não o leu, tem um filme de personagens rasos, principalmente a personagem principal. Quem leu o livro, tem um testemunho de uma mulher apaixonada pelo marido e a impressão de que tudo aquilo é uma declaração e homenagem ao "caliente(?)" marido brasileiro da autora. Para quem vê o filme sem ter lido o livro, enxerga apenas mais uma generalização do homem brasileiro (pelo menos, uma generalização positiva, mas não deixa de ser uma generalização). Enfim, como diria um amigo meu: "deveria ser proibido, pois é caso claro de venda casada".

Apenas sobre o filme, daqui por diante, não é a obra mais feliz de Julia Roberts. Caras e bocas maravilhosas da atriz não ajudam no fraco personagem encarnado por ela. Imagens maravilhosas e uma excelente fotografia não fazem os minutos passarem na tediosa obra. E a parte inteira que se passa na Índia (apenas para quem não leu o livro), poderia ser cortada do filme, pois pouca coisa contribui. O filme tem um início que promete, um meio que não cumpre, e um óbvio final que decepciona. Um filme realmente fraco (ainda que as mulheres delirem com todas as formas de se conjugar o verbo comer [sem culpa] do filme; uma única ideia boa não faz um filme inteiro bom).

"A Lenda dos Guardiões", 2010: uma opinião.


"A Lenda dos Guardiões" (Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole [EUA/Austrália] , 2010 - 90 min. Animação / Aventura Direção: Zack Snyder Roteiro: John Orloff, Emil Stern Elenco:Jim Sturgess, Hugo Weaving, David Wenham, Emily Barclay, Abbie Cornish, Helen Mirren, Sam Neill, Ryan Kwanten, Joel Edgerton


Sabe aquele filme em que você sai da sala de exibição se perguntando se foi bom ou ruim? Tive de refletir um bocado para chegar a um veredito sobre "A Lenda dos Guardiões".

O filme possui seis pôsteres diferentes. Escolhi este por ser a melhor representação do filme. Uma visão alucinante do voo da coruja no meio da tempestade, o olhar lânguido, e as angustiantes ondas do mar agitado: um retrato fiel do filme (lânguido, de visões alucinantes, e enredo angustiante). Mas, antes de mais nada, é um entretenimento para crianças e que deve ser analisado como tal.

Confesso que estou mal acostumado em assistir na telona entretenimentos que envolvem a família inteira. Que diverte todas as idades. Que consegue passar uma mensagem inocente para o mais novo ao mesmo tempo em que vai dando margens para que as referências e entrelinhas provoquem os mais velhos. E, definitivamente, "A Lenda dos Guardiões" não possui isto. É apenas um entretenimento para crianças. Com belas imagens, com corujas apaixonantes, e com uma história de vitória do bem sobre o mal necessária na formação de nossos "pequerruchos".

Ao mesmo tempo, não é um filme bobo. Não apelaram para o antropomorfismo no movimento das aves. Elas, apesar das expressões tipicamente humanas, agem como corujas, voam como corujas e comem o que as corujas comem (eca!). Afinal, é uma história sobre corujas. Possui um enredo que permite o desenrolar da história, mas não se prende a detalhes - eis seu maior pecado.

A peregrinação das aves tem um salto imediato. Parece que logo na primeira dificuldade temos nossos herois socorridos. Aliás, tudo acontece com pouco esforço. Ainda que a história diga que não, que tudo seja duro, tudo seja um drama, a velocidade dos acontecimentos agilizam a história quando ela deveria dar-nos mais detalhes, ou pelo menos maior dramaticidade. E o filme peca bastante nisso.

Enfim, meu veredito: é um filme "bonzinho". Não é ruim, mas também não é bom. "Bonzinho" está de bom tamanho. Excelente era o trailer.

Ósculos e amplexos!

"Gnomeu e Julieta", 2011: o desafio de se contar a mesma história.


"Gnomeu e Julieta", 2011 Gnomeo and Juliet [EUA/ING] - 84 min. Animação / Comédia Direção: Kelly Asbury Roteiro: John R. Smith, Rob Sprackling Elenco: James McAvoy, Emily Blunt, Ashley Jensen, Michael Caine, Matt Lucas, Jim Cummings, Maggie Smith, Jason Statham, Ozzy Osbourne, Stephen Merchant, Patrick Stewart, Julie Walters, Hulk Hogan, Kelly Asbury, Richard Wilson, Dolly Parton



Logo no começo do filme se reconhece a grande dificuldade de Romeu e Julieta: contar uma história que já foi contada um montão de vezes. E também que já foi contada de forma diferente um montão de vezes. "Além de um epílogo chatinho, longo, porém necessário".

No que diz respeito em apresentar para as crianças a tragédia de todos os tempos, do qual há descaradamente ou disfarçadamente semelhanças em quase todas as tragédias românticas que elas verão em suas vidas, o filme é eficiente. Na crítica sobre a obra de Shakespeare, obviamente voltado aos pais que levarão suas crianças, inocentemente, o filme brinca com o xarope epílogo e com a necessidade de um fim trágico aos protagonistas (afinal, é uma tragédia, não é?), o filme também cumpre seu papel. E acabam aqui os elogios.

O que se vê entre o começo e o fim é uma obra bem mais ou menos. De visível orçamento reduzido. E com somente cópias dubladas para o Brasil (que faz com que percamos a graça de ter a voz de Ozzy, por exemplo - sem desmerecer os nossos brazucas globais que emprestam suas vozes aos personagens). Os efeitos 3D servem, infelizmente, para que o ingresso seja mais caro, pois não influencia em nada no filme - os melhores efeitos são os barulhinhos de porcelana batendo.


Enfim, como na maioria das vezes, a tentativa de se contar Romeu e Julieta acaba sendo mais do mesmo. Não espere, portanto, muito do filme. Levem as crianças, no máximo, para que seja apresentado a elas o interessante Shakespeare. Assim mesmo, com fins bastante pedagógicos. Nada mais do que isso.

Ósculos e amplexos!

"Bruna Surfistinha", 2010: boa produção menos fraca biografia é igual a um filminho bom


"Bruna Surfistinha" [BRA] , 2010 - 109 minutos Drama Direção: Marcus Baldini Roteiro: José de Carvalho, Homero Olivetto, Antônia Pellegrino Elenco: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Guta Ruiz, Fabiula Nascimento, Cristina Lago



Alguém se lembra de "Cristiane F. ...13 anos, drogada, prostituída"? Fez um alvoroço danado quando foi lançado. Teve um destaque profundo principalmente nas escolas devido às zelosas professoras que buscavam a todo custo mostrar aos seus aluninhos que a contra-cultura, por tantos endeusada, possui contra-indicações. E a linguagem do cinema era ideal para essas zelosas professorinhas, pois presumiam que seus aluninhos tinham uma certa aversão à leitura. Pois é, o problema é que as melhores e mais interessantes partes da história ficam no livro.

Bruna Surfistinha tem um pouco disso. Baseado em "O Veneno do Escorpião", livro de Bruna Surfistinha/Raquel Pacheco que se tornou um senhor best seller. Afinal, tinha a receita certa: apesar de limitações sérias tanto na narrativa quanto nos aspectos literários, trata-se de alguém do submundo, do mundo paralelo da prostituição, conversando com os ditos normais do mundo real. E a sua mensagem era: o que lhes chocam, aqui é cotidiano. O mundo paralelo é mais real do que se imagina. E ao longo de histórias, por vezes cômicas e por vezes capazes de provocar ânsias de vômito. O livro provoca o imaginário ao mesmo tempo que apresenta, em variadas e descontroladas doses, o mundo de muitas mulheres.

Estamos falando, porém, de cinema. E, infelizmente, nada disso, ou talvez apenas um pouco disso, aparece no filme. A boa produção e os aspectos técnicos surpreendem. Certas limitações na interpretação de Secco, principalmente na parte pré-surfistinha, são corrigidas com inteligentes ângulos de câmera. E as partes em que Secco demonstra que de uma longa carreira televisa sai excelentes momentos interpretativos ganham um tratamento mais do que especial da composição de luzes, câmeras e fotografias. Mas, quem vai ao cinema querendo ver como "nasce" uma meretriz, decepciona-se. Quem vai para ver a empreendedora, decepciona-se. E quem vai para ver uma versão brasileira de Cristiane F. se arrepende da infeliz ideia.

Enumerando o que o filme tem de bom, na pole position se encontra a publicidade. Assim como o seu blog, Bruna Surfistinha se vende muito fácil. Segundo, temos uma produção de qualidade. Terceiro, temos as curvas e seios de Secco. E, lá no fim, em último lugar, a história.

Há sérios problemas em se dar tratamento de heroina a uma prostituta. E o filme carrega este drama o tempo todo. Faz de Bruna uma heroina, sem querer fazer isso. Aliás, o "morde e assopra" está presente ao longo de toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que cuspir o que um cliente ejaculou foi pesado, foi leve demais a personagem ter apenas olheiras profundas quando estava internada no pó. Ao mesmo tempo em que o filme tenta apresentar um drama, não perde o jeitão de documentário auto-biográfico. E quando finalmente o corpo cobra a fatura e acontece uma overdose, ainda assim a personagem vende o clichê de vencedora da contra-cultura, que conseguiu tudo o que queria por esforços próprios. É ou não uma heroína?

O filme opta por pegar o que há de mais fraco na biografia de Bruna Surfistinha. E peca em uma série de abreviações. Agrada para quem quer apenas se entreter, irrita cinéfilos. É um filme bonzinho, nada mais do que isso, porém muito, mas muito comentado.

Ósculos e amplexos!

"Besouro Verde",2011: ruim como a série.


"O Besouro Verde" (The Green Hornet) [EUA] , 2011 Ação / Comédia Direção: Michel Gondry Roteiro: Seth Rogen, Evan Goldberg Elenco: Seth Roge, Jay Chou, Cameron Diaz, Tom Wilkinson, Christoph Waltz, David Harbour, Edward James Olmos, Jamie Harris, Chad Coleman, Edward Furlong


Antes de analisar o filme, um momento de reflexão histórica. . .

"Batman, 1989" e "Batman: o cavaleiro das trevas, 2009" são exceções maravilhosas no histórico de adaptações de super-herois para o cinema. Em geral, os filmes costumam ser ora bobos, ora simplesmente horríveis de assistir. O próprio Batman padeceu desse mal nos filmes seguintes, piorando cada vez mais e mais.

Uma boa explicação é a de que a história do heroi às vezes é mais importante do que vê-lo em ação. Para os fiéis fãs de Histórias em Quadrinhos, o enredo é vital - somente a pancadaria deixa a história chata e imediatamente irrelevante. Ao mesmo tempo, na hora em que a pancadaria é inevitável, história boa é aquela em que dá para sentir medo do vilão e impressionar-se com a fúria do mocinho. E, se este frágil equilíbrio é de uma dificuldade imensa para HQs, para o cinema então é para grandes mestres.

Os citados filmes do Batman acima são produções que agradaram tanto cinéfilos quanto fãs de HQs. Possui o equilíbrio perfeito. Uma história convincente. Um enredo de qualidade. Um vilão de dar medo. E uma pancadaria de primeira categoria quando se faz necessário. E até mesmo algumas polêmicas, como a morte do Curinga no filme de 1989, contribuíram para fazer deles um marco para o estilo "super-herois" no cinema.

Se você está se perguntando qual o motivo de eu tanto falar em Batman e necas do Besouro Verde, a explicação vem agora.

Besouro Verde pertence ao imaginário dos mais antigos devido às aparições da dupla Besouro e Kato em outra série, também de uma dupla: Batman e Robin. Na época, década de 1960, a FOX resgatou um antigo sucesso do rádio para concorrer com Batman, mas que foi um fracasso de audiência. Ainda assim, devido a febre que foi a série de Batman e Robin, o primeiro ano de Besouro Verde teve 26 episódios, todos um fracasso e tanto. Insistente, a FOX começou a fazer "crossovers" de Besouro Verde em episódios de Batman. Mas, nem isso salvou o fracassado heroi.

E a comparação não pode parar por aí. Britt Reid é rico, mas talvez não tanto quanto Bruce Wayne. Possui um parceiro bom de briga, mas nem tão parceiro quanto Robin. Tinha o Beleza Negra, que era um carro muito legal, mas nem tão legal quanto o Bat-móvel. E seu filme anos depois não poderia ter outro resultado: não é tão legal quanto os do Batman.

Para os mais novos então a coisa é pior. Há um certo carinho pelo personagem graças a um outro filme: "Dragão: a história de Bruce Lee, 1993". Neste filme, há uma inverdade, há uma "mentirinha" que acabam vendendo no filme: a de que Besouro Verde foi um sucesso nos Estados Unidos antes da série se chamar Kato em Hong Kong.

Enfim, o filme Besouro Verde, 2010, tinha tudo para ser ruim e nisto não decepciona. É ruim mesmo. Britt Reid (Seth Rogen) é interpretado por um ator que somente foi convincente em sua carreira fazendo personagem de "eterno chapado". Outra dificuldade imensa é a superação do mito Bruce Lee. E não dá outra: o filme não consegue e Kato (Jay Chou) é um bobalhão bom de briga. E o filme comete outras sacanagens. Ele mata Mike Axford, personagem que distorcia as histórias do Besouro Verde, fazendo do heroi um bandido nos jornais para colocar a linda e, para o filme, desnecessária Cameron Diaz (o nome da personagem é o de menos, pois colocaram Diaz no filme para "valer" o ingresso). Isso sem falar no bandido, que não dá medo em ninguém e o próprio filme tira onda dele. Ah! E os efeitos 3D são desnecessários, não contribuindo em absolutamente nada o filme inteiro.

Ósculos e amplexos!

Biutiful, 2010: a morte é linda!


"Biutiful" (idem) [ESP/MEX] , 2010 - 147 minutos Drama Direção: Alejandro González Iñárritu Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Armando Bo, Nicolás Giacobone Elenco: Javier Bardem, Maricel Álvarez, Eduard Fernández, Cheikh Ndiaye, Diaryatou Daff, Cheng Tai Shen



Pensem em uma abordagem sobre a miséria de uma vida feita de maneira monótona mesmo diante de uma que possuía tudo para ser das mais agitadas. Misture com uma visita a uma Barcelona feia, suja, sem nenhum glamour: a Barcelona dos trabalhadores ilegais, das prostitutas, da malandragem. Pensem em um personagem no qual o espectador irá alimentar simultaneamente repulsa e dó por ele. Pensem em um filme do qual não dá trégua nenhum segundo sequer. Isto é Biutiful.
Gostar ou não do filme realmente não importa, ele é bom e pronto. O problema é que retratar a vida (ou a morte) tão de perto não é coisa que queremos ver no cinema. Ainda mais que estamos acostumados com a vidinha besta dos personagens hollywoodianos. Quando nos deparamos com alguém que urina sangue, vamos sentindo dores junto. E isto é o que fez tantos críticos e cinéfilos torcerem o nariz para este filme. Mas, para quem assistiu 21 gramas e Babel não esperaria outra coisa do diretor Iñarritu senão algo intenso, um capítulo de um imenso tratado sobre a morte e a miséria da vida.
Não há interrupção na obscuridade que o filme se propõe relatar. E o roteiro é solto como a vida. O drama é construído no tempo em que as coisas acontecem: desgraças em doses diárias e pequenas, que vão agudizando a dor do protagonista ou do que está vivo. Não se sabe quem é mais desgraçado. E ao fim, saímos do cinema sem saber se foi uma sessão sobre amores, morte, endermidades ou miséria. Tudo gira ao redor de Bardem, que mesmo sem maiores expressões, está pra lá de convincente. Mas os coadjuvantes estão equilibradíssimos (em seus desequilíbrios). Com destaque para as crianças.
Na medida em que vemos a vida de Uxbal (Bardem) se esvaindo, vamos vendo como a morte pode ser linda, ou Biutiful.

Ósculos e amplexos!

Rango, 2010: uma homenagem de qualidade ao western.


"Rango" (idem) [EUA] , 2010 - 107 minutos Animação / Faroeste Direção: Gore Verbinski Roteiro: John Logan, James Ward Byrkit, Gore Verbinski



- Atenção: contém spoilers -

Brincadeiras com atributos antropomorfos de certos animais já viraram rotina para muita coisa. No cinema, então, já estamos acostumados com um urso comilão, com gatos preguiçosos, e burros nada espertos. E que tal um camaleão com problema de identidade? E assim está composta a psiquê de um bom personagem.

O heroi surge na tela de maneira patética: dentro de um aquário onde interpreta um ator - outro trocadilho ótimo para um camaleão. Contracena com uma boneca, ou melhor, com o tronco e um braço de uma boneca, um "peixe de corda", um inseto morto, e com o cenário. A vida quadrada, outro trocadilho, tem a cara de Rango. As comparações, os trocadilhos, serão uma constante em todo o filme. E da patética vidinha em aquário, veremos um personagem crescer junto com a história. Como um excelente filme de "faroeste" deve ser.

Do "teatro" para as telas, a homenagem ao estilo "bang-bang" vai crescendo em Rango. Após o acidente, nos vemos em meio ao cenário de Win Wenders de "Paris, Texas, 1984" - que em minha opinião, definiria como o faoreste retornaria em tempos mais atuais.E assim, outra constante: a graça e o bom gosto vai sendo demonstrado a cada segundo enquanto o filme passa pelos cenários e situações comuns ao gênero western.

Não dá para falar da homenagem sem falar de suas referências. Do xerife "quase" honrado, da frágil dama que tem que ser durona em busca de justiça, pistoleiros de rápido gatilho, o índio rastreador (aliás, senti-me em meio à diligência que perseguiu Butch Cassidy e Sundance Kid), o "saloon", saqueadores, o impacto da chegada do forasteiro como em "Por um Punhado de Dólares, 1964" e o bigodinho de Lee Van Cleef em uma temerosa serpente mojave de arrepiar.

A homenagem não possui referências apenas do gênero. Ele brinca, por exemplo, com Jerry Lewis, reproduzindo a cena do encontro de Lewis com George Raft em "O Terror das Mulheres, 1969" quando, apavorado, vai se complicando a cada nova tentativa de limpar o rosto do bandido. Também com "Senhor dos Anéis" e "Star Wars" - que para muitos são "westerns" medieval e espacial, respectivamente. Aliás, chega a ser um marco a batalha à "Star Wars" com A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, tocada por banjos. Aliás, falando em trilha sonora, as corujinhas fazem uma homenagem à altura de Morricone e Tiomkim que os deixariam orgulhosos.

A dramaticidade, o crescente, as quebras repentinas de continuidade, os exageros, enfim cada coisa desprende um aroma de puro western. Mas, assim como Western não é filme apenas para "vovô", a animação não é filme apenas para os netinhos. Olhar para o filme de com um ou outro preconceito será sinônimo de decepção, com toda a certeza.

Até mesmo os pontos negativos do filme são típicos de um bom "faroeste": custa entrar na história, a ação demora para aconter, enredo irritantemente simples e dependente das expressões dos personagens. Além disso, é uma brincadeira de metalinguagem cinematográfica. Ou seja, para iniciados ao gênero. Sem isso, o filme se torna entediante, pois não tem nem piadinha fácil - daquelas que sacrificam o roteiro em busca da graça que não tem.

Ósculos e amplexos!

PS* Uma curiosidade: cada resenha ou crítica que vejo sobre o filme, noto uma criatividade dos críticos quanto ao porquê do nome "Rango". Misturam "Django", "Jivago", e tantos outros nomes de forma bastante criativa mesmo! O mais interessante é que o próprio filme dá uma pista: em uma garrafa, nosso cameleão cobre parte da palavra DURANGO ... e voilá: tem-se (Du) Rango (Kid).

Passe Livre, 2011: pastelão moralista.


"Passe Livre", 2011 (Hall Pass) [EUA] Comédia Direção: Peter Farrelly, Bobby Farrelly Roteiro: Pete Jones, Peter Farrelly, Kevin Barnett, Bobby Farrelly Elenco: Owen Wilson, Alyssa Milano, Jenna Fischer, Christina Applegate, Jason Sudeikis, Richard Jenkins, Vanessa Angel, Stephen Merchant, Tyler Hoechlin, Alexandra Daddario, Lauren Bowles, Nicky Whelan, Larry Joe Campbell, Zen Gesner, J.B. Smoove, Carly Craig



Que tal receber um "passe livre" de uma semana de sua esposa? Pois é, também fiquei me perguntando: "prá quê?". Com um enredo fraco como esse, que não desafia os pudores nem mesmo de um menino de oito anos de idade, a chance do filme ser bom é nula. E como são ainda mais bobos os motivos: os maridos observam outras mulheres e grosseiramente dão bandeira, deixando as suas paranoicas.

A verborragia típica do mundo masculino é maltratada. Ela tem alguma graça somente quando os rapazes estão bêbados - e tão somente entre eles. No cinema, é chato, é cansativo, é bobo. As comédias de situação são previsíveis por demais. E os diretores não economizaram em apelar para a escatologia para arrancar algumas risadas - ou asco, como o nu frontal na cena da sauna que é de um mau gosto horripilante, além de preconceituosa ou quando se explora o sofrimento daquela que deseja parar de fumar e tem a mais grosseira de todas as cenas escatológicas que já vi no cinema.

O tom preconceituoso, o enredo moralista leva para um final sem graça, com a velha "moral da história". E o cinéfilo volta para casa com aquela sensação de tempo (e dinheiro) perdido.

Ósculos e amplexos!

"Sexo sem Compromisso, 2011": amizade com privilégios.


"Sexo Sem Compromisso", 2011 (No Strings Attached) [EUA] - 111 minutos Comédia / Romance Direção: Ivan Reitman Roteiro: Elizabeth Meriwether e Michael Samonek Elenco: Natalie Portman, Ashton Kutcher, Kevin Kline, Cary Elwes, Greta Gerwig, Lake Bell, Olivia Thirby, Ludacris


O filme provavelmente passaria batido no Brasil se o próximo trabalho de sua protagonista, a linda e sensual Natalie Portman, não lhe rendesse o Oscar que lhe rendeu. E no oportunismo dos "homens espertos demais", "Sexo sem Compromisso, 2011" chega no Brasil em ordem inversa (foi feito antes de "Cisne Negro", mas chegou aqui depois). E nos revelou, infelizmente, mais uma comédia romântica com algumas, porém poucas, sacadas inteligentes.

Não deixa de ser um fato curioso que o tema provoque tanta euforia nos Estados Unidos. O que aqui no Brasil conhecemos como "Amizade Colorida" há tempos, lá provoca a imaginação puritana e a censura dos mais conservadores. Aqui talvez fertilizaria a imaginação dos mais novos, em processo de descoberta de suas primeiras paixões. Porém, o filme é inadequado para menores de 16 anos.

Em matéria de comédia romântica, gênero surrado e frequentemente ignorado pelos críticos, infelizmente o cinema atual decretou uma fórmula do qual quase todos do gênero seguem um mesmíssimo roteiro. Um ou uma pateta, uma situação de difícil solução, inconstância no tempo do filme, e final feliz - invariavelmente com a solução do conflito. "Sexo sem Compromisso" tem um Kutcher menos pateta do que o pateta usual do gênero, mas nem por isso menos pateta. Tem a parte Non Sense, que é protagonizada pelo sempre preciso Kevin Kline - que é o pai do protagonista, um "tiozão" que se envolve com a ex-namorada de Adam (Kutcher). Tem os amigos, tanto de Adam quanto de Emma (Portman), que rasgam bordões. E a grande sacada do "Mixtape Menstruation".

O filme arranca boas gargalhadas, além de encantar casais devido o clima romântico. Mas, infelizmente é mais um do mesmo: fraquinho, sem muitas inovações, altamente previsível e de "fácil digestão". Bom até mesmo para aqueles momentos de maiores solitudes (típicas de todo cinéfilo).

Ósculos e amplexos!

O discurso do Rei: redondo, mas um pouco irritante para a história


"O Discurso do Rei", 2010 (The King's Speech) [ING] Direção: Tom Hooper Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael Gambon. Duração: 118 min Gênero: Drama

O filme é de uma plasticidade inigualável. A câmera parece tratar cada um dos personagens de maneira diferente e para cada situação de maneira diferente. E assim vamos nos angustiando com a gagueira de um nobre que está à beira de uma guerra e cujo seu papel de apaziguar nações inteiras depende de sua eloquência. E não para por aí. O filme ainda possui grandes cenas, sem cortes, que dá a medida certa para casa momento dramático.


Ao mesmo tempo, vemos na tela algumas mudanças que incomodam. O desprezo do nobre aos plebeus, que no começo é evidente, ao decorrer do filme desaparece. E não é devido a amizade ou a qualquer outro motivo. Ela simplesmente desaparece. Em um momento importante, o tema é resgatado pelos membros do clero, e o representante maior da nobreza se irrita com tudo, menos com a classe social de seu "clínico". Temos um Churchill abobalhado, exagerado. E olha que exagerar o exagerado Churchill é uma tarefa dificílima. E o "paizão" não convence mesmo! E, por fim, o trauma da chegada de mais uma guerra mundial passa longe. O medo de cortar a espinha é sublimado. E o discurso do rei, auge do filme, não passa nada da expectativa da guerra. Ah! E a renúncia à coroa do irmão do rei passa batido tão rapidamente que dá a impressão de que uma boa parte da história não foi contada para se chegar logo "ao trono".


O filme é bom, redondo, na medida certa. Tem uma boa história e o cinéfilo sai da sala se sentindo melhor. Até mesmo acredita que a família real inglesa é boazinha, que tem importância central para o mundo anglófono. Mesmo diante de um rei nervosinho, pavio curto, e até mesmo antipático para com seus súditos (pois ó superstar carismático é o irmão dele), dá para gostar dele e torcer por sua volta por cima.


Ósculos e amplexos!

Uma Manhã Gloriosa, 2010: nada mais que um passatempo matinal.

"Uma Manhã Gloriosa", 2010 (Morning Glory) [EUA] Direção: Roger Michell. [Comédia] Elenco: Rachel McAdams, Harrison Ford, Patrick Wilson, 50 Cent, Diane Keaton, Jeff Goldblum, Arden Myrin.


O filme demora um pouco para engrenar. Muita verborragia de uma personagem inicialmente patética, "workaholic", e muitas cenas em que pouco ou em nada contribui para com o filme. E, tediosamente, uma piada ou outra, com também pouca ou nenhuma sofisticação, vai enrolando o filme até que finalmente, lá pela metade da película, a história começa de fato.

Não é uma obra fantástica e o risco de frustrar maiores espectativas é grande. Nem sequer de comédia romântica dá para chamar, pois há pouquíssimo romance ou qualquer elemento mais significativo do gênero. É apenas um filme para se assistir descompromissadamente. Para dar um "relax" após um estafante dia de trabalho.

Becky Fuller (Rachel McAdam) não convence nem como pateta, nem como uma competente produtora de TV. Aliás, importante lembrar que, apesar de lembrar nossos programas matinais, tanto o conceito de programa matinal quanto o de produtora de TV nos Estados Unidos é consideravelmente diferente. E, tanto para a realidade estadunidense quanto para a brasileira, Becky Fuller é fraquinha, fraquinha.

Agora, o filme reserva surpresas agradáveis. A dupla Diane Keaton e Harisson Ford não apenas salvam o jornal matinal, dão um pouco de cinema ao filme. Ford está um contraponto exato com o momento apelativo de puro desespero do enredo. Ele consegue ter um mau humor cômico. E Keaton, apesar das situações patéticas que sua personagem lhe colocou, está elegantíssima. O engraçadão "homem do tempo" possui uma vingancinha sobre ele do qual provoca a maior parte dos risos.

Agora, destaque negativo para Patrick Wilson. Ele apenas contribui para o enredo para dizer que o personagem de Ford é a terceira pessoa mais odiosa do mundo. Nem mesmo o romance com Fuller consegue empolgar.

Se não esperar profundidade, nem mesmo uma grande história, é um bom passatempo. Nada mais do que isso.

Ósculos e amplexos!

VIPS, 2010 : Um "Prenda-me se for Capaz, 2002" piorado.


"VIPs", 2010 [BRA] - 96 minutos Aventura / Drama Direção: Toniko Melo Roteiro: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori Elenco: Wagner Moura, Arieta Corrêa, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Norival Rizzo, Roger Gorbeth, João Francisco Tottene, Jorge D'eli.


É inevitável a comparação de "VIPS, 2010" com "Prenda-me se for Capaz, 2002". Ambos tem como ponto de partida pedaços de uma história real, publicados em livro. Ambos compram o enredo, mas sabotam a verdade contada nas linhas. Ambos tem demonstrado como a mentira NÃO tem pernas curtas e vai longe. E ambos se tem o bandido no lugar do mocinho.

A versão brasileira não possui, porém, o mesmo glamour da versão de Spielberg. E as diferenças começam a se notar por aqui. Ao invés de um piloto da PANAM, um piloto de contrabandistas. Ao invés de golpes financeiros, apenas uma engenharia social bem elaborada. Ao invés de um gênio do crime, um personagem com gravíssimo problema de identidade.

Wagner Moura, carismático e de interpretação impecável, que diferentemente de Di Caprio, desenvolve cada personagem de maneira infinitamente distinta. Porém, o filme passa tempo demais entre contrabandistas e o auge, quando faz um dos maiores merchants da história do cinema brasileiro para a Gol, linhas aéreas, chega a ser cansativo de tão enrolado.

Saindo da comparação com o filme de Spielberg, VIPs é um flashback desnecessariamente prolongado. Perde-se a oportunidade de se fazer excelentes brincadeiras com os tolos e fúteis símbolos da High Society. Não se decide se aborda a psicopatia de Marcelo (Moura) ou se explora a essência da expressão "seja alguém na vida". E possui um final, na minha opinião, decepcionante e desfocado.

Destaque para Gisele Fróes, que empresta um charme imenso à mãe do personagem mesmo e à Arieta Corrêa, atriz que convence muito bem em seu papel.

Ósculos e amplexos!

"Rio", 2011: belíssima animação "Brazil for Export".


Rio (Idem) [EUA], 2011 - 96 min, Animação Direção: Carlos Saldanha Roteiro: Don Rhymer Elenco: Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Leslie Mann, Jamie Foxx, Will.i.Am, Tracy Morgan

-Atenção: contém spoiler -

"Rio" é um filme que, para nós brasileiros, deve ser visto com outros olhares além do cinematográfico. Teremos duas imensas vitrines para mostrar ao mundo o quanto o Brasil melhorou, apesar de suas insistentes mazelas sociais: Copa do Mundo e Olimpíada. Muitos [e horrorosos] blockbusters já pousaram na Cidade Maravilhosa com o propósito de arrancar nacos desta visibilidade toda. E a animação "Rio", apesar de feita por uma equipe bastante brasileira, não deixa de ser um olhar gringo sobre uma das cidades mais apaixonantes do país.

Ao assistir o filme, incomodava-me com a corrupção e o contrabando se limitar à favela. Criminalizando, como sempre, o pobre. Incomodou-me um bocado os batedores de carteira serem macacos. E me incomodou muito a pesada carga ianque-ecologista que, nas entrelinhas, corrobora a perigosa internacionalização de nosso patrimônio natural. Não me lembro, por exemplo, uma ação efetiva da polícia (chegando ao absurdo dos contrabandistas serem presos e ainda assim não aparecer ninguém fardado os prendendo).

O filme se passa durante o carnaval. Como não há período mais caricato para o Rio de Janeiro que este, não podemos reclamar muito do segurança louco para cair na folia ou de tudo acabar em samba. Assim como não podemos reclamar do curtíssimo trajeto em que o filme se passa (um morro qualquer, Lapa, Copacabana, e Santa Tereza). Mas podemos reclamar do samba na Sapucaí que, no filme, não tem um terço do impacto e força do qual ele realmente possui. E o baile funk então não passa nem perto.

Por outro lado, o filme possui imagens que consegue captar aquela luz maravilhosa que há no Rio de Janeiro. Consegue, por exemplo, mostrar como a estátua do Cristo Redentor realmente "olha" para toda a cidade - e em 3d, a ponta dos dedos do Cristo chega a roçar o óculos. Para quem conhece a cidade maravilhosa o filme teletransporta com uma facilidade imensa, de maneira bem convincente. E assim, a animação consegue agradar crianças e adultos, sendo uma ótima atração em família.

Destaque para uma coisa importante para todos que forem ao Rio de Janeiro e que o filme soube explorar com precisão: se você não confiar em ninguém perderá o que o Rio tem de melhor, ou seja, a alegria e a hospitalidade carioca. Porém, se confiar em todo mundo conhecerá o que há de pior, ou seja, a corrupção e a bandidagem de uma minoria de "espertalhões" que apavora a cidade roubando e "dando a volta" nos turistas mais desprevenidos. Tal característica não irá mudar por conta de uma Copa ou Olimpíada. Portanto, confie para fazer amizades - valorosíssimas por lá - mas não vacile para não perder nada importante - seja a carteira ou mesmo a vida.

Ósculos e amplexos!

"Cópia Fiel, 2010": Um ensaio sobre cópia e realidade.

"Cópia Fiel" (Copie Conforme) [Fra/Ita], 2010 - 106 minutos - Drama Direção: Abbas Kiarostami Roteiro: Abbas Kiarostami Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Adrian Moore.

Logo ao se iniciar o filme temos um gostinho de que não se tratará de um filme simples, mas de um ensaio sobre cópia e originalidade. Em um ambiente acadêmico, um premiado autor de um ensaio filosófico sobre a arte da cópia é ansiosamente esperado. Ao chegar, em inglês, James Miller (William Shimell) está no centro das atenções em uma complexa explicação sobre seu livro, como teve a ideia, e outras abordagens que todo escritor apresenta ao longo de um painel sobre seu trabalho. Ele, por si só é uma cópia de uma série de outros intelectuais fazendo o que eles sempre fazem em um briefing qualquer. A cadência monótona vai sendo quebrada pela presença de Elle (Juliette Binoche) e seu filho. Eles surgem ainda mais atrasados que o autor do livro, provocam o curador do evento, saem antes da apresentação de Miller chegar ao fim. E, finalmente, agora em francês, ela e filho conversam sobre aparências. A originalidade do filho irrita-a profundamente.

Eis um filme que brincará o tempo todo com a questão sobre valor entre cópia e originalidade. As histórias de casamento, apesar de serem praticamente um grande clichê, tanto a alegria de seu começo quanto a tristeza de seu fim, possui seus instantes de originalidade. E tanto um como outro necessita da interpretação livre de quem observa para que se construa uma obra de arte. E o filme irá maravilhosamente destrinchar em sutilezas. Até mesmo as inúmeras obras de arte que estão bem fotografadas no filme perdem seu valor ao serem tratadas enquanto cópias da realidade.

Obviamente que o filme não entregará tudo de mão beijada. Do começo ao fim dele ele irá trazer elementos que, dependendo do ponto de vista de quem o observa, fará do filme uma entediante história de casal passando por um pedido de socorro às mulheres iranianas [sério... eu juro que vi isso], encerrando na doce melancolia da entrega após a reconciliação.

É um filme que precisa de um olhar acadêmico, iniciado. Belíssimo, apesar de bastante complexo. Binoche está simplesmente fantástica e Shimell não está por menos. A visita à Toscana é feita de modo pra lá de atraente. E a brincadeira entre tempo e espaço que é marca registrada dos filmes iranianos está complementando inúmeras técnicas francesas e italianas de cinema.

Sem falar que, no olhar deste que escreve, após a grande reviravolta, temos uma deliciosa brincadeira quanto a linguagem do homem, da mulher e do casal. No caso do filme, respectivamente, inglês, francês, e italiano. Obviamente que em crise, são pouquíssimos os momentos em que o italiano concilia o duro e ranzinza inglês e a reclamona e sonhadora francesa.

Um filme muito bom.

Ósculos e amplexos!

"Os Visitantes: eles não nasceram ontem, 1993" : moda nos cinemas de Paris?

"Os Visistantes: eles não nasceram ontem", 1993 (Les Visiteurs) [FRA] Direção: Jean-Marie Poiré Roteiro: Christian Clavier e Jean-Marie Poiré Elenco: Christian Clavier, Jean Reno e Valérie Lemercier.




Juro que não entendi o motivo, mas este filme foi fenômeno de bilheteria em seu país de origem. Talvez por um motivo de época, ou por ser o humor do francês assim mesmo. De qualquer maneira, é um humor de difícil digestão para o público brasileiro.

Seu começo é confuso. Nota-se uma brincadeira com o que realmente era a França ao fim do primeiro século de crise do sistema medieval. Brinca-se de maneira exagerada com vários elementos: a ponta dos sapatos, as vestimentas, a podridão dos dentes, enfim, com a podridão de uma época - que somente os românticos a tratava bem. O que para o francês pode ser um hilário deboche, para o brasileiro não passa de um pastelão de mau gosto.

Quando menos se espera, em meio a toda aquela confusão, um confuso mago esquece uma parte importante de uma fórmula mágica. E, o que deveria levar os protagonistas para um passado recente para corrigir uma burrada provocada por uma bruxa acabou os levando para um futuro bastante distante. E assim, depois de muita sujeira e pastelão gratuíto, começa-se o filme.

Deste ponto em diante o filme perde completamente a responsabilidade para com elementos históricos e passa a brincar com um insólito choque cultural. Seguem comédias de situação com piadas bem elaboradas misturadas com o pastelão "torta-na-cara" que sempre arranca risos. E o resultado final é o de uma comédia até que bem feitinha. Fraquinha, mas bem feitinha.

Os elementos técnicos, como fotografia e trilha sonora são pavorosos. Mas não interferem no filme.

Ósculos e amplexos!