quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Amor?", 2011: híbrido pertubador


Amor?, 2011 [Brasil] Direção: João Jardim Roteiro: João Jardim, com a colaboração de Renée Castelo Branco Elenco: Lilia Cabral, Eduardo Moscovis, Letícia Collin, Cláudio Jaborandy, Silvia Lourenço, Fabíula Nascimento, Mariana Lima, Ângelo Antônio e Júlia Lemmertz. Duração: 100 min. Drama/Documentário


Um letreiro inicial nos prepara para o que virá pelos próximos cem minutos: algo que, de tão forte, precisa ter seus reais autores preservados. Deste ponto em diante, veremos um espetáculo de interpretação, simbologia, tudo formando um híbrido pertubador entre ficção e realidade.

O filme é uma espécie de documentário onde se aborda a questão da violência entre casais. A pergunta inicial inexiste, havendo somente depoimentos sobre a violência sofrida ou infringida e tentativas de explicação de seu porquê. Para preservar os envolvidos, vários atores emprestam suas interpretações aos depoimentos reais. O nome do filme nos dá ideia da intenção do filme: a causa da violência é o amor? Isto é amor?

A brutalidade das situações esta presente ao longo de cada uma das histórias, ainda que a gravidade das violências vão crescendo ao longo do filme. Entre um depoimento e outro, temos belíssimas imagens de corpos, pele, água, e até mesmo o gemido de uma relação sexual nos dando uma poética refrescada e nos preparando para aguentar a próxima paulada.

Não tem como dizer que um ou outro esta melhor ou pior. Do conformismo interpretado por Lilia Cabral, o depoimento com um telefone ao ouvido de Moscovis; as duas formas de contar a mesma história (eu ainda acredito que houve aqui uma espécie de espelhamento entre as depoentes, mas é coisa minha) pela Silvia Lourenço e minha conterrânea Fabíula Nascimento; o nojo que Ângelo Antônio provoca; a inocência abusada de Letícia Collin; todos são, ao seu modo, um espetáculo de interpretação. Agora, quem me derrubou foi a Júlia Lemmertz. Se alguém tinha alguma dúvida se ela é uma boa atriz, é depois do depoimento que ela demonstra ser excelente. Dá para se sentir acuado, explodindo em choro toda a situação vivida e narrada.

O filme não nos dá resposta. Apenas nos conduz em uma série de narrativas que nos farão refletir sobre a violência entre casais. Desde a violência moral, passando pela verbal, e chegando às vias de fato, todas são terríveis e deixam marcas muito maiores que hematomas. Há ainda quem crie distúrbios e se vicie na relação doentia que a violência pode provocar.

Não há como sair da exibição sem refletir em todas as vezes em que fizemos alguém sofrer por achar que isso é amor. O filme nos demonstra que o abuso é mais constante do que podemos imaginar. São atores, mas poderiam ser nossos vizinhos, parentes, nós mesmos, nossos companheiros ou companheiras. Não há como se sentir bem diante tanta atrocidades, que alguns a justificam como sendo amor.

Sem dúvidas, pertubador e excelente!

Ósculos e amplexos!

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