segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Tetro, 2009": é sempre bom ver Coppola em forma!


"Tetro" (idem) [EUA/Argentina], 2009 - 127 min. Drama Direção: Francis Ford Coppola Roteiro: Francis Ford Coppola Elenco: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú, Klaus Maria Brandauer, Carmen Maura.

A proposta é digna de um mestre: depois de realizar "Poderoso Chefão", 1972 e "Apocalipse Now", 1979, produzir algo com elevado nível de recursos técnicos, mas com orçamento de médio porte, pela primeira vez. É uma espécie de uma aventura amadora realizada por um mestre que encontra a necessidade de crescer mais um pouco. E ainda tem a vantagem de poder pagar seu próprio filme, não se preocupando com qualquer apelo comercial dele. Isto é "Tetro"!

Em preto e branco, com flashback em cores, o filme conta a história de Bennie (Ehrenreich), um garçom de cruzeiro que, na semana de seu aniversário de 18 anos, aproveita uma escala de seu navio em Buenos Aires para encontrar seu irmão, Angelo (Gallo), que não o vê há anos. Chegando no boêmio bairro portenho La Boca, descobre que agora ele se chama Tetro e que vive com Miranda (Verdú), a única que lhe dá um pouco de boa receptividade. Tetro se recusa falar de sua própria família, prefere chamar de irmão um amigo de boemia ao seu próprio irmão. Enfim, é um encontro que faz com que Bennie busque sobre seu passado, mas que ao mesmo tempo é negado por seu irmão. A busca por respostas que Bennie passa a empreitar com valentia será causador de ainda mais discórdia entre os irmãos.

O filme é ao mesmo tempo uma ópera e um tango. Envolve dramas familiares, segredos destrutivos, conflito de gerações, romance, violência, e uma pitada de sensualidade. Muito mais teatral que sentimental, a história de Tetro corre paralela à história de Bennie. E toda vez que uma ameaça cruzar com a outra, um desastre acontece. Miranda (Verdú) é a responsável por aliviar um pouco as tensões. Namorada de Tetro, ela é quem mobiliza tudo o que está ao seu alcance para que mais sobre a história de seu amado Tetro possa lhe servir de cura para sua insana negação de si. Ela é a única pelo qual Tetro não busca negar, talvez por ser a única em que ele vê uma espécie de auto-profilaxia.

A vida de Tetro e de Bennie é de uma tragédia tão imensa que a obra inacabada de Tetro é adaptada para o teatro graças a Bennie. Eis que entra em cena a maravilhosa, com um óculos gatinha pavoroso, Alone (Carmen Maura). Crítica poderosíssima e antiga professora de Tetro, ela possui um festival de teatro reconhecido por toda a Argentina. Ela patrocina a montagem da história que Tetro tanto busca negar e Bennie desvendar.

Enfim, falando do filme, maravilhar-se com a fotografia é a coisa mais simples que o espectador sente diante da tela. Envolver-se com a dureza da história já é mais difícil. Não há como se identificar com nenhum personagem e justamente por isso o filme recebeu tantas críticas negativas. Para piorar, a encenação de Gallo chega a ser desconfortante. E a estreia de Ehrenreich o faz se aproximar de Leonardo DiCaprio tanto pelo seu charme, tanto pela sua semelhança, bem como também por uma imensa dificuldade em se expressar. Mas é a operística tragédia final é que temos vontade de levantar e aplaudir o filme dentro da sala de cinema.

E tão somente quando abaixam-se as cortinas, ou melhor, quando a trama chega ao seu fim, é que temos a dimensão do todo e nos apercebemos que o mestre voltou e esta em forma. Um filme de primeira linha, ainda que não chegue aos pés das maiores obras de arte de Coppola.

Ósculos e amplexos!

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