sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Meia-Noite em Paris", 2011: Woody Allen se revigorou com uma declação de amor.



"Meia-Noite em Paris" (Midnight in Paris) [França/EUA] , 2011 - 100 min. Comédia/Romance Direção: Woody Allen Roteiro: Woody Allen Elenco: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni-Sarkozy, Michael Sheen, Nina Arianda, Alison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Corey Stoll, Kurt Fuller, Mimi Kennedy


Desde 2005 que Woody Allen se reinventa. Abandonou aquela insistente busca por um lado felliniano que não possui e resolveu divagar pelo mundo seu jeito esquizofrênico em verdadeiras declarações de amor pelas cidades onde seus novos filmes são ambientados. Um Woody Allen com sotaque e um olhar inteligente, mesmo que seu alter-ego seja sempre seu personagem principal. Em "Meia-Noite em Paris", de maneira leve, declara-se o amor pela Cidade Luz da seguinte forma: - "Cara, como consegue essa cidade ser tão mágica? Tenho que falar com a Câmara do Comércio sobre algumas coisinhas!". E tal declaração de amor lhe rendeu o filme que já é sua melhor produção desde "Hanna e suas irmãs", 1985.

O alter-ego de Allen é Gil (Wilson), renomado e cansado roteirista de Hollywood que deseja publicar um livro realmente bom. Ele está prestes a se casar com a linda, intragável e completamente fútil Inez (McAdams) e vão para Paris a fim de objetivos bastante diferentes. Mas Gil acaba tendo um romance paralelo: apaixona-se pela cidade e misteriosamente é conduzido para uma Paris dos anos 1920, onde se encontra com seus ídolos e referências como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Salvador Dalí e tantos outros (com direito a uma sequência de gags com nada menos que Salvador Dalí).

De uma maneira bastante suave, Gil vai ocupando todos os espaços do filme. Não se trata de uma comédia, mas de um encontro. Ainda que Allen dê momentos de política, filosofia e sua eterna maneira particular de ridicularizar a psicologia, seu alvo principal é a pseudo-intelectualidade. Aliás, dá uma surra no intelectual de Sourbonne quando viaja pelo tempo e comprova que a arte deve ser vivida e não somente ostentada. Quem não vive a arte, apenas acumula informação e se torna pedante. E o personagem intelectualoide é Paul (Sheen), que dá encima descaradamente da noiva de Gil enquanto toma atitudes irritantes como a de discutir com a guia vivida pela Primeira-Dama francesa Carla Bruni-Sarkozy. Também sustenta uma tese que será o grande drama do filme: por que uma geração sempre venera a geração anterior?

O filme é lindo, leve, romântico, mas exige um público iniciado - mas não muito - em letras e artes. Se não conhecer Buñuel, se não assistir seu "O Anjo Exterminador", 1962, não vai entender a piada maravilhosa que aparece quando Gil dá uma ideia de filme ao próprio diretor espanhol. Se não entender um pouco das literaturas francesa e americana, certamente não vai entender a brincadeira entre Fitzgerald e Gil sobre Mark Twain. Mas não se preocupe, o filme é bom e tão somente os pseudo-intelectuais - tão ironizados no filme - irão se preocupar em dissecar cada uma dessas referências.

Excelente, é um Woody Allen revigorado.

Ósculos e amplexos!

terça-feira, 14 de junho de 2011

"Potiche", 2010: comédia e crítica atual, feminina, e feminista.


"Potiche: esposa trofeu" (Potiche) [França], 2010 Direção: François Ozon Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard. 103 min Comédia

Apenas pelo fato do diretor Ozon estar novamente fazendo comédia já seria uma ótima notícia. Mas a boa notícia não para por aí, Catherine Deneuve e Gérard Dépardieu fazem novamente uma dupla romântica no cinema – bem mais envelhecidos que em "O Último Metrô", 1980, mas com o mesmo charme.

"Potiche", em francês, significa vaso, mas que é utilizado figurativamente para aquela esposa que vive para seu marido, como um enfeite de prateleira. A grande "Potiche" aqui é Suzanne Pujol (Deneuve), filha de um grande fabricante de guarda-chuvas amado por seus operários, mas que é esposa daquele que recebeu 45% da fábrica como dote e que é seu CEO Robert Pujol (Luchini). Com mão-de-ferro e imenso desprezo para com a classe operária, Robert tenta em vão sufocar a greve. E o resultado: Robert foi sequestrado pelos trabalhadores e, neste processo, acaba tendo um enfarto.

Suzanne toma uma atitude corajosa: assume o lugar do marido na fábrica. Mas o que era para ser temporário e apenas de fachada para acalmar os grevistas acaba se tornando um grande sucesso. E aos poucos vamos vendo Suzanne se transformando em uma mulher bastante feminina, porém com ótima desenvoltura e bastante poderosa em cada uma de suas ações.

Deneuve faz de tudo neste filme. Brinca os mais cinéfilos que só falta ela fazer malabares – pois canta, dança, e interage de maneira a esbanjar perfeição. O filme se passa na década de 1970, quando o Partido Comunista Francês era poderoso e praticamente resumia a esquerda. Nos dando um Dépardieu absurdamente grande, interpretando Maurice Babin, uma imagem saudosa do comunista ex-sindicalista que virou parlamentar. Suzanne e Babin tiveram uma paixão de adolescente muito bem contada na história e a química entre Deneuve e Dépardieu está maravilhosa.

Como o filme se baseia em uma peça teatral, o filme é bastante exagerado nas interpretações, cores e aspectos caricatos dos personagens. Mas, apesar de se passar na década de 70, é bastante atual e a mensagem feminista é passada de maneira suave e muito envolvente. Não é um filme para risos histéricos, mas para aquelas risadas de pessoas de bom gosto e que percebem a crítica ao chauvinismo burguês.

Bem elaborado, "Potiche" promete boas risadas e a "recaída" de amores por nossa eterna "Bela da Tarde".

Ósculos e amplexos!

"Copacabana", 2010: divertido e leve, nos apaixonamos antes de ficarmos irritados.


"Copacabana" (idem) [França/Bélgica], 2010 Direção: Marc Fitoussi Roteiro: Marc Fitoussi Elenco: Isabelle Huppert, Chantal Banlier, Magali Woch, Lolita Chammah Duração: 105 min Comédia/Drama

Os franceses praticamente se tornaram pais do gênero Comédia-Dramática. "Copacabana" é um exemplo disso. Babou (Huppert), de espírito livre e de imensa autenticidade, tem uma complicado relacionamento com sua filha Esméralda (Chammah). Ela não aceita o jeitão adoidado de sua mãe e pede para que não comparaça em seu casamento como garantia de que não ficará envergonhada. A decisão de sua filha fez com que Babou tomasse as rédeas de sua vida, indo para a monótona cidade de Ostende, na Bélgica, a fim de provar que é capaz de ser responsável, de ser uma pessoa normal.

O contraste entre Babou e Esméralda é constante, bem como constantemente é contrastada a vida real com a vida idealizada. Exemplo disso é a tomada aérea da praia de Ostende ao som de samba, é o som alegre da batida brasileira no deprimente balneareo belga. Ela, Babou, vai trabalhar "pescando" turistas para imóveis "timeshare" - apenas um em cada oito amigos que voltam da Europa falam que é um bom negócio, os outros sete chegam a se contorcer de raiva. Melhor explicando, são inúmeras as formas de se pescar o turista para timeshare, que vale desde raspadinhas até mesmo um passeio de limousine. Mas quando o turista entra no prédio, deparará-se com uma agressiva abordagem e quase três horas de palestras, apresentações, tudo para que o impulso o obrigue a fechar negócio. Babou se encontra trabalhando em um sistema considerado por muitos como pura falcatrua.

O filme é uma delícia de se ver. Babou é o carisma é pessoa. Sente muito a falta da filha, mas não perde o sonho de demonstrar que é uma grande mãe. Intervém positivamente na vida das pessoas sempre que pode, ainda que sua própria vida seja uma bagunça. É claro que a visão que ela possui sobre o Brasil é da caricata Copacabana da década de 60, com as mesmas músicas. Mas não ofende, pelo contrário, é um elogio. Mesmo não havendo nenhum segundo sequer no Brasil, o ideal de se estar na colorida, apaixonante, e alegre terra descoberta por Cabral colore o cinza da vida real de Babou. A França é o cinza da vida real, e o Brasil é a cor do sonho. Bem como a cor do sonho deve pintar o casamento de Esméralda, que dá sinais claros de caminhar para um cinza infinito.

Copacabana é divertido e leve. E o público brasileiro não se importará com a caricatura generalizada que sempre nos incomoda, pois já estará apaixonado pela autenticidade de Babou.

Ósculos e amplexos!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"O Pai dos meus Filhos", 2009: Um filme sem começo, nem fim, apenas meio!


"O Pai dos Meus Filhos" (Le père de mes enfants). [França], 2009. Direção e Roteiro: Mia Hansen-Løve. Elenco: Louis-Do de Lencquesaing (Grégoire Canvel), Chiara Caselli (Sylvia Canvel), Alice de Lencquesaing (Clémence Canvel), Alice Gautier (Valentine Canvel).

Somente após descobrir que o filme é uma homenagem à Humbert Balsan, genial produtor de cinema que se matou quando entrou em falência, é que o filme fez um pouco de sentido. Para quem não possui essa referência acaba assistindo um filme sem muita objetividade, sem mocinho, sem mocinha, sem bandido, sem história, sem nada. Uma pena, pois seus personagens são bastante cativantes, mas sem uma história que os conduzam para qualquer lugar.

O filme conta a história da família Canvel. Ela possui uma mãe atenciosa, três filhas lindas, e um pai para lá de atarefado devido ao seu estafante e corrido trabalho de produtor de cinema. Não é fácil ser a família de um gênio. Ao contrário de sua conta bancária, um gênio não possui limites. E uma das obras mais empolgantes na vida do produtor é justamente o causador de sua falência.

O filme não tem começo, nem fim. Apenas meio. A única surpresa, ação, drama, momento, ou qualquer coisa que acontece no filme está exatamente na metade. Antes da metade, temos um cansativo e competente Louis-Do atuando. Depois temos Chiara Caselli não dando conta nem de sua personagem. O filme fica poluído em meio a tanta informação.

Resumindo, o filme acaba sendo muito fraco - o que é uma pena.

Ósculos e amplexos!

"Um Gato em Paris", 2010: leve e fofa história policial.


"Um Gato em Paris" (Une Vie de Chat) [Bélgica, França, Holanda, Suíça], 2010 Direção: Atores: Dominique Blanc, Bruno Salomone, Jean Benguigui, Oriane Zani. 70 min Animação/Policial/Infantil Jean-Loup Felicioli, Alain Gagnol

Para os brasileiros que tiveram a felicidade de ser iniciado na literatura através dos contos policiais da Coleção Vagalume vão gostar bastante do francês "Um Gato em Paris". Irá então se deliciar aquele que gosta de uma história de detetive leve, bem contada, e com várias referências à filmes consagrados de "Os Bons Companheiros", 1990 à "Aristogatas", 1970. "Um gato em Paris" conta a história da vida dupla de Dino, um gato de uma linda menininha de dia e de um "gatuno" à noite.

A história é bastante convencional, bem como sua animação. Principalmente por estarmos acostumados com as superproduções como as da Disney ou as pesadas animações francesas como "As Bicicletas de Belleville", 2003 e "O Mágico", 2010. As cores são muito bem usadas e os recursos que dão leveza ao ladrão, dureza aos policiais, e "patetice" aos gângsters são atraentes e convincentes. Agrada às crianças e os adultos. O filme se dá ao luxo de algumas "gags" gratuitas, como a do cachorro que vive latindo durante as rondas do gato, sem forçar absolutamente nada na história.

O grande problema é que vieram somente cópias dubladas para o Brasil e que nem sempre conseguem extrair uma boa expressão vocal. E um probleminha é que o fim da história promove uma certa impunidade do qual me incomodou, mas nada que estragasse o filme.

Leve e fofa, uma atração bastante familiar e gostosa de assitir.

Ósculos e amplexos!

"Venus Negra", 2010: mórbido e torturante demais!


"Vênus Negra" (Venus Noire) [França / Itália / Bélgica] , 2010 - 159 minutos Drama Direção: Abdellatif Kechiche Roteiro: Abdellatif Kechiche, Ghalia Lacroix Elenco: Yajima Torres, Andre Jacobs, Olivier Gourmet, Elina Löwensohn

Assombrosamente, trata-se de um filme baseado em uma história real. Ainda mais assombroso é saber que tão somente em 2002 seu corpo foi repatriado, graça ao Presidente Nelson Mandela. Estamos falando da "Venus Hotentote", nome artístico de Saartjie Baartman (Torres), apresentada em um show de horrores como bizarra atração negra, selvagem, de corpo com grandes proporções. Sem dúvida, trata-se de um filme atual, ainda que se passe em 1815.

O filme é torturante. Temos logo ao início o desprazer de ver totalmente o show de horrores, sem cortes, ao lado da plateia inglesa. Ao longo de praticamente vinte e poucos minutos será apresentada uma mulher sendo tirada de uma jaula, sendo humilhada de diversas formas diferentes, sendo tratada como um animal sendo domesticado. Quando não há mais estômago para tamanha humilhação, o Hendrick Caesar (Jacobs) seu sócio e capataz convida a plateia a tocá-la, que o fazem nem sempre com as mãos.

O problema da coisa é que o filme é longo, demasiadamente repetitivo, torturando o espectador até que a revolta perca definitivamente para a repulsa. O que revela um certo sadismo de Kechiche, pois a mensagem já é passada logo nos primeiros minutos da exibição e nada além da tortura é apresentada nos minutos seguintes. A Venus Hotentote é atração de circo em Londres, vira atração da aristocracia em Paris, é vendida para "a ciência, decai e vira prostituta, até que morre... mas tem seu corpo dissecado e exposto em um museu de história natural na França até a década de 1980.

Torturante, foram poucos os que aguentaram até o final tamanha atrocidade.

Ósculos e amplexos!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Não se Pode Viver Sem Amor", 2011: complicado lirismo fantástico.


"Não Se Pode Viver Sem Amor" Drama - [Brasil], 2010. Direção: Jorge Durán. Elenco: Cauã Reymond, Simone Spoladore, Victor Navega Mott, Rogério Fróes, Ângelo Antonio, Fabíola Nascimento. Duração: 100 min. Classificação: 14 anos.

O realismo fantástico de Jorge Amado tem um representante póstumo: Jorge Durán. Porém, em "Não se Pode..." há um complicado lirismo apresentado em tela do qual pode não agradar a maioria de seu público. Ele exige uma certa compra das situações fantásticas que acontecem com pessoas comuns, mas a venda não é fácil. Aceitar com naturalidade tantas situações absurdas com persanagens tão bem construídos em uma realidade bem próxima é um desafio e tanto.

Gabriel - vivido pelo estreante e talentosíssimo, Victor Mott, sem dúvidas o ponto alto de todo o filme - vai para o Rio com Roseli (Spoladore) em uma busca por seu desaparecido pai. Dono de uma imaginação e inocência fantástica, capaz até de realizar feitos milagroso - talvez por cativar até mesmo papai do céu com seu olhar e carisma - alimenta seu sonho e vai conduzindo a história de um lado para o outro. A história se entrelaçará com a de Pedro (Antônio), professor deprimido que assume o taxi de seu pai (Fróes) quando esse falece subitamente. No mesmo dia, ele é "mal assaltado" por João (Reymond) que, não sendo bandido, recorre ao assalto a fim de levantar dinheiro para tirar do meretrício sua amada Gilda (Nascimento) e assim viverem juntos como marido e esposa.

Ao se falar em amor, o filme trata a solidão que antecede o encontro com o ser amado. Amargurados, cada personagem desfila em suas ilhas solitárias pouco se importando a gravidade dos rumos que suas vidas estão tomando. Porém, a trama carrega a mão na hora de desestruturar o universo real e lançar o fantástico. Ele pifa na hora de costurar os argumentos e cansa um pouco a coleção de sentimentos e sensações que busca provocar no espectador.

De interessante e bastante sutil é o tempo do filme: natal - que na minha opinião acaba sendo o período mais reflexivo do ano.

Ósculos e amplexos!

"Piratas do Caribe 4", 2011: mais fraco, mas nem por isso pior.


"Piratas do Caribe 4: navegando em águas misteriosas" (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides ) [EUA] , 2011 - 137 min. Ação / Aventura / Fantasia Direção: Rob Marshall Roteiro: Ted Elliot, Terry Rossio Elenco: Johnny Depp, Penelope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane, Kevin McNally, Sam Claflin, Astrid Bergés-Frisbey, Stephen Graham, Keith Richards, Richard Griffiths, Oscar Jaenada


A franquia Piratas do Caribe tem dois públicos: um que adora Jack Sparrow e outro que adora Johnny Depp. O que adora Johnny Depp não se decepciona nunca vendo sua beleza em cena, seu jeito desajeitado e altamente charmoso de correr, e como dizem minhas amigas dono de "um olhar-convite". Já os fãs de Jack Sparrow sairam um pouco decepcionado, pois o personagem esta um pouco apagado neste quarto episódio.

Finalmente Sparrow (Depp) tem um Norte para sua bússola: encontrar a fonte da juventude. Porém, sem barco - o Pérola Negra foi capturado pelo pirata temido pelos próprios piratas Barba Negra (McShane) - Jack terá que encontrar um barco novo e uma tripulação inteira. Ao começar a busca, descobre que há um impostor se passando por Jack Sparrow e iniciando uma jornada justamente em busca da fonte da juventude. A fim de não revelar muita coisa, pulemos essa parte e entreguemos somente o óbvio: Jack Sparrow irá parar no navio do Barba Negra e será comandado por um antigo affair Angelica (Cruz), justamente a filha do Barba Negra. Em duas outras comitivas também em busca da fonte se encontram a tripulação do agora Comodoro Barbossa e a comitiva misteriosa dos navegadores espanhois.

Tem muita coisa que fica mal transmitida e o filme não dá conta dos detalhes que ele mesmo apresenta. O mito das sereias esta muito transformado, porém ora joga para o espectador a interpretação, ora o próprio filme se encarrega disso e causando uma certa frustração (além de dentes de vampiro que realmente foi de extremo mal gosto). Mas o filme tem seus momentos empolgantes e acaba valendo o ingresso. O romance entre a sereia Syrena (Bergés-Frisbey) e o religioso Philip (Caflin) tem horas de tédio absoluto e horas de necessária aparição - mas galáxias de distância atrás de Elizabeth (Keira Knightley) e Will (Orlando Bloom) dos primeiros três filmes.

No fim das contas, o filme é bacana. Os fãs de Depp terminam por satisfeitos, e os de Sparrow um pouco frustrados e também felizes. E, obviamente, tem uma cena extra depois de quase quinze minutos de créditos.

Ósculos e amplexos!

"Kung Fu Panda 2", 2011: fofo, mas sem o frescor do primeiro filme.


Kung Fu Panda 2 (idem) [EUA] , 2011 - 91 min. Ação / Animação / Comédia Direção:Roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger Elenco: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Lucy Liu, David Cross, Jackie Chan, Seth Rogen, Gary Oldman, James Hong, Michelle Yeoh, Danny McBride, Jean-Claude Van Damme. Jennifer Yuh

Seguindo a mesma narrativa do primeiro filme, mas sem as surpresas, o segundo episódio da saga de Po, o desajeitado panda gordo e atrapalhado que se tornou uma lenda do kung fu. Desta vez ele terá que partir com os Cinco Furiosos em uma jornada ainda mais perigosa: derrotar Lorde Shen, um príncipe pavão perigosíssimo que foi banido por seus pais devido sua maldade. A maldade de Shen se deu devido à profecia de que um inimigo preto e branco o derrotaria fez com que ele exterminasse praticamente todos os pandas da China. Mas sobrou um, Po, que também parte em uma jornada em busca de paz interior ao perceber que talvez não seja filho do marreco que o criou.

O filme é para o público infantil, mas agradou muito mais os adultos. Após o incômodo inicial da pré-estreia estar repleta de crianças, foi justamente delas que ouvi as críticas mais estrondosas: "Que filme triste!" E para elas foi mesmo. Colocando-me no lugar de uma criança, o filme se passa quase que inteiramente em meio ao drama de famílias desestruturadas - vamos combinar que esse é um tema assustador até mesmo para adultos. Tanto Po quanto Shen foram afastados de seus pais, o que moldou a vida deles consideravelmente. Po ainda teve a felicidade de encontrar um amoroso pai adotivo. Já Shen foi criado por sua própria conta e maldade.

É claro que a ausência de surpresas atrapalhou um pouco, mas as lutas estão sensacionais e divertidas. Aprendemos um pouco mais sobre os Cinco Furiosos neste filme - já que foi necessário lançar um extra sobre eles, pois o primeiro filme não deu conta.


O filme é bem equilibrado e fofo, aceitável para adultos, talvez muito chato para as crianças.

Ósculos e amplexos!

"Quebrando o Tabu", 2011: assopra, mas nem morde direito.


"Quebrando o Tabu" Documentário - [Brasil/EUA/Portugal/Holanda/Suíça/França/Argentina], 2011. Direção: Fernando Grostein Andrade. Duração: 80 min. Classificação: 18 anos.

O documentário é a apresentação de uma tese que tem o sociólogo e ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso como âncora. Nela, a partir do pressuposto de que o mundo fracassou em sua política de guerra às drogas, investiga-se qual a melhor alternativa para se lidar com o problema da drogadição. Assim, o filme vai colhendo opiniões através de depoimentos de professores, usuários, e de personalidades como Bill Clinton, Jimmy Carter, Dráuzio Varella, Paulo Coelho, e tantos outros e outras.

Em um primeiro momento, não me agradou o filme por parecer ser um elogio ao alter-ego do intelectual Fernando Henrique Cardoso igualmente em "Uma Verdade Inconveniente", 2006 de Al Gore. Vasculhando bem, é possível encontrar vários intelectuais que utilizaram de uma abordagem cinematográfica para defender uma opinião corrente no meio acadêmico e assim promoverem seus alter-egos. E, no caso de "Quebrando o Tabu", vemos exatamente isto.

O filme, por outro lado, não é de todo ruim quando analisamos seu conteúdo. Ele morde ao analisar o fracasso e as consequências nefastas que a política do proibicionismo provoca sobre a população - igualmente ao documentário "Cortina de Fumaça", 2010; mas assopra quando precisa apontar uma direção que realmente quebre o tabu. Talvez o único tabu que se consegue quebrar por aqui é o de debater sobre as drogas, mas o principal que é o de apontar culpados e responsáveis, isto não é feito.

Ósculos e amplexos!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"O Homem ao Lado", 2009: comédia na Argentina, Drama no Brasil.


"O Homem ao Lado" (El Hombre de al Lado), 2009 [Argentina] Direção: Mariano Cohn, Gastón Duprat Atores: Rafael Spreguelburd, Daniel Aráoz, Ruben Guzman, Eugenia Alonso. Duração: Drama 110 min

Na Argentina foi classificado como Comédia. No Brasil, Drama. Talvez isto anuncie a dificuldade do espectador brasileiro achar graça na ironia argentina. "O Homem ao Lado" é um filme que zomba da pequena-burguesia, que chega a ser cruel com a arrogância da classe média alta portenha. Mas que para o público brasileiro, acaba sendo nada mais que um drama de enredo sem maiores elementos.

Leonardo (Spreguelburd) é um designer de sucesso, rico e famoso. Projetou uma cadeira que se tornou conceito e mora na única casa projetada por Le Corbusier existente nas Américas. Por isso, Leonardo pode se dar ao luxo de dar entrevistas e de lecionar de sua funcional e clean morada. Porém, a vida de Leonardo está longe de ser tranquila. Não por medo de ladrões, uma vez que a casa não foi projetada para evitá-los, ou tampouco devido a legião de estudiosos de Le Corbusier que teimam em querer entrar na casa. Seus problemas surgem, de fato, quando Victor (Aráoz), rude e provavelmente de classe média baixa, resolve abrir uma janela com vista para a casa de Leonardo.

Aos poucos, vamos vendo uma crítica à classe média alta que nega até mesmo a luz do sol para as camadas mais baixas. Com ironia,o personagem Leonardo vai, aos poucos se desmoronando. Vamos assistindo a verdade desnudando aos poucos cada uma das máscaras que ele usa. Vemos que ele não é tão cosmopolita assim, que ele é um desastre como pai, que a intelectualidade e amigos intelectuais são grandes embustes, até mesmo seu caráter é questionado dada sua ausência de sinceridade. Vai aos poucos demonstrando ser um grande banana, incapaz de expor sua própria opinião. Tudo o que faz é mascarado, é desonesto, é sovina. Já o grosseirão Victor é o extremo oposto. Vamos assistindo o sapo virando príncipe. Vamos vendo que o ser obscuro, tipicamente machão, é na verdade uma grande pessoa. Honesto, ligado à família, pessoa que não tem pudores em entreter a filha do ingrato vizinho.

A luta de classes é o pano de fundo desde o primeiro momento da película. O homem ao lado vai derrubando à marteladas a classe burguesa, incomodando-a, expondo suas podridões e a envergonhando. Porém, o filme não acredita em conciliações entre classes, tampouco entre vizinhos, e revela um final surpreendente.

Não me lembro de ninguém no cinema ter esboçado um sorriso sequer ao longo da exibição. Para o público brasileiro, o tapa de luva bateu na carapuça que bem lhe serviu. Tornou-se um drama, sem maiores conciliações entre operários e burgueses.

Ósculos e amplexos!

"Tetro, 2009": é sempre bom ver Coppola em forma!


"Tetro" (idem) [EUA/Argentina], 2009 - 127 min. Drama Direção: Francis Ford Coppola Roteiro: Francis Ford Coppola Elenco: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú, Klaus Maria Brandauer, Carmen Maura.

A proposta é digna de um mestre: depois de realizar "Poderoso Chefão", 1972 e "Apocalipse Now", 1979, produzir algo com elevado nível de recursos técnicos, mas com orçamento de médio porte, pela primeira vez. É uma espécie de uma aventura amadora realizada por um mestre que encontra a necessidade de crescer mais um pouco. E ainda tem a vantagem de poder pagar seu próprio filme, não se preocupando com qualquer apelo comercial dele. Isto é "Tetro"!

Em preto e branco, com flashback em cores, o filme conta a história de Bennie (Ehrenreich), um garçom de cruzeiro que, na semana de seu aniversário de 18 anos, aproveita uma escala de seu navio em Buenos Aires para encontrar seu irmão, Angelo (Gallo), que não o vê há anos. Chegando no boêmio bairro portenho La Boca, descobre que agora ele se chama Tetro e que vive com Miranda (Verdú), a única que lhe dá um pouco de boa receptividade. Tetro se recusa falar de sua própria família, prefere chamar de irmão um amigo de boemia ao seu próprio irmão. Enfim, é um encontro que faz com que Bennie busque sobre seu passado, mas que ao mesmo tempo é negado por seu irmão. A busca por respostas que Bennie passa a empreitar com valentia será causador de ainda mais discórdia entre os irmãos.

O filme é ao mesmo tempo uma ópera e um tango. Envolve dramas familiares, segredos destrutivos, conflito de gerações, romance, violência, e uma pitada de sensualidade. Muito mais teatral que sentimental, a história de Tetro corre paralela à história de Bennie. E toda vez que uma ameaça cruzar com a outra, um desastre acontece. Miranda (Verdú) é a responsável por aliviar um pouco as tensões. Namorada de Tetro, ela é quem mobiliza tudo o que está ao seu alcance para que mais sobre a história de seu amado Tetro possa lhe servir de cura para sua insana negação de si. Ela é a única pelo qual Tetro não busca negar, talvez por ser a única em que ele vê uma espécie de auto-profilaxia.

A vida de Tetro e de Bennie é de uma tragédia tão imensa que a obra inacabada de Tetro é adaptada para o teatro graças a Bennie. Eis que entra em cena a maravilhosa, com um óculos gatinha pavoroso, Alone (Carmen Maura). Crítica poderosíssima e antiga professora de Tetro, ela possui um festival de teatro reconhecido por toda a Argentina. Ela patrocina a montagem da história que Tetro tanto busca negar e Bennie desvendar.

Enfim, falando do filme, maravilhar-se com a fotografia é a coisa mais simples que o espectador sente diante da tela. Envolver-se com a dureza da história já é mais difícil. Não há como se identificar com nenhum personagem e justamente por isso o filme recebeu tantas críticas negativas. Para piorar, a encenação de Gallo chega a ser desconfortante. E a estreia de Ehrenreich o faz se aproximar de Leonardo DiCaprio tanto pelo seu charme, tanto pela sua semelhança, bem como também por uma imensa dificuldade em se expressar. Mas é a operística tragédia final é que temos vontade de levantar e aplaudir o filme dentro da sala de cinema.

E tão somente quando abaixam-se as cortinas, ou melhor, quando a trama chega ao seu fim, é que temos a dimensão do todo e nos apercebemos que o mestre voltou e esta em forma. Um filme de primeira linha, ainda que não chegue aos pés das maiores obras de arte de Coppola.

Ósculos e amplexos!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Amor?", 2011: híbrido pertubador


Amor?, 2011 [Brasil] Direção: João Jardim Roteiro: João Jardim, com a colaboração de Renée Castelo Branco Elenco: Lilia Cabral, Eduardo Moscovis, Letícia Collin, Cláudio Jaborandy, Silvia Lourenço, Fabíula Nascimento, Mariana Lima, Ângelo Antônio e Júlia Lemmertz. Duração: 100 min. Drama/Documentário


Um letreiro inicial nos prepara para o que virá pelos próximos cem minutos: algo que, de tão forte, precisa ter seus reais autores preservados. Deste ponto em diante, veremos um espetáculo de interpretação, simbologia, tudo formando um híbrido pertubador entre ficção e realidade.

O filme é uma espécie de documentário onde se aborda a questão da violência entre casais. A pergunta inicial inexiste, havendo somente depoimentos sobre a violência sofrida ou infringida e tentativas de explicação de seu porquê. Para preservar os envolvidos, vários atores emprestam suas interpretações aos depoimentos reais. O nome do filme nos dá ideia da intenção do filme: a causa da violência é o amor? Isto é amor?

A brutalidade das situações esta presente ao longo de cada uma das histórias, ainda que a gravidade das violências vão crescendo ao longo do filme. Entre um depoimento e outro, temos belíssimas imagens de corpos, pele, água, e até mesmo o gemido de uma relação sexual nos dando uma poética refrescada e nos preparando para aguentar a próxima paulada.

Não tem como dizer que um ou outro esta melhor ou pior. Do conformismo interpretado por Lilia Cabral, o depoimento com um telefone ao ouvido de Moscovis; as duas formas de contar a mesma história (eu ainda acredito que houve aqui uma espécie de espelhamento entre as depoentes, mas é coisa minha) pela Silvia Lourenço e minha conterrânea Fabíula Nascimento; o nojo que Ângelo Antônio provoca; a inocência abusada de Letícia Collin; todos são, ao seu modo, um espetáculo de interpretação. Agora, quem me derrubou foi a Júlia Lemmertz. Se alguém tinha alguma dúvida se ela é uma boa atriz, é depois do depoimento que ela demonstra ser excelente. Dá para se sentir acuado, explodindo em choro toda a situação vivida e narrada.

O filme não nos dá resposta. Apenas nos conduz em uma série de narrativas que nos farão refletir sobre a violência entre casais. Desde a violência moral, passando pela verbal, e chegando às vias de fato, todas são terríveis e deixam marcas muito maiores que hematomas. Há ainda quem crie distúrbios e se vicie na relação doentia que a violência pode provocar.

Não há como sair da exibição sem refletir em todas as vezes em que fizemos alguém sofrer por achar que isso é amor. O filme nos demonstra que o abuso é mais constante do que podemos imaginar. São atores, mas poderiam ser nossos vizinhos, parentes, nós mesmos, nossos companheiros ou companheiras. Não há como se sentir bem diante tanta atrocidades, que alguns a justificam como sendo amor.

Sem dúvidas, pertubador e excelente!

Ósculos e amplexos!