segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Um Sonho de Amor", 2009: Bella storia e belle foto!



"Um Sonho de Amor" (Io Sono L'Amore) 2009 [Itália/Rússia/UK] Direção: Luca Guadagnino Roteiro: Luca Guadagnino / Barbara Alberti / Ivan Cotroneo / Walter Fasano Elenco: Tilda Swinton / Flavio Parenti / Edoardo Gabbriellini / Alba Rohrwacher / Pippo Delbono / Diane Fleri / Maria Paiato / Gabriele Ferzetti

Duas reclamações são obrigatórias antes de se avaliar este filme: o nome péssimo e absurdamente genérico que deram aqui no Brasil, podendo ser tranquilamente ser chamado de "Eu Sou o Amor" - o que faria muito mais sentido e paladar ao filme - ; e a demora para chegar nas telas, pelo menos de Curitiba - dois longos anos!!!

Reclamações feitas, vamos ao filme. Para quem sempre está com saudades dos bons filmes italianos, este é de deixar o espectador satisfeito. Sim, daqueles que provocam, instigam, envolvem, e ainda possui uma paisagem de se perder o fôlego. Aos poucos, sem nenhum salto, no tempo exato, vai se construindo a história principal, os personagens vão sendo compostos com complexidade e profundidade, e as paisagens e a fotografia vão se fundindo com o drama de cada um em cena e a nossa paixão pela Bella Itália vai às alturas.

O filme apresenta uma família tradicional, de classe alta de Milão, em que à princípio não se tem nenhum outro drama senão a preocupação em se fazer um jantar de gala para seu anfitrião, o patriarca Edoardo Recchia Senior (Ferzetti), encaixando uma convidada de última hora de seu neto, Edoardo (Parenti). Em meio ao jantar, que está sendo um sucesso, um novo drama: Edoardo Senior anuncia sua aposentadoria, surpreendendo a todos ao anunciar como sucessor não apenas seu filho, o monótono e ambicioso Tancredi (Delbono) mas também a seu neto Edoardo. Logo, outro drama surge: a neta, Delfina (Codecasa), seguindo a tradição da família de se presentear com um quadro - preferencialmente de própria autoria - presenteia o nono com uma fotografia, coisa que visivelmente constrange o patriarca e que mesmo tentando disfarçar provoca mal-estar em toda a família. Em meio a esse turbilhão de sentimentos, outros irão surgir com maior força e maior intensidade fazendo com que os primeiros sejam transformados em mera futilidade.

Antonio (Gabriellinni), amissíssimo de Edoardo, que o vencera em uma corrida e que já havia se tornado um constrangedor tema daquela janta, aparece na mansão Recchia para demonstrar sua amizade por Edoardo. Aos poucos, vamos descobrir uma amizade de profunda admiração e irmandade entre os dois. Tal profunda admiração se extende também para a alma do filme: Emma (Swinton), que se encanta com o rapaz e com seu talento culinário. Deste ponto em diante, temos em cena a tragédia do amor, como em uma ópera italianíssima.

O filme vai sendo construído com inteligência e vai sempre deixando marcas em quem assiste. É impossível não suspirar com as belas imagens e com a atuação bastante convincente de Swinton (que a cada dia mais me surpreende com sua boa forma e talento cênico). Somos tranportados para as belas imagens de Milão e San Remo, ficamos aflitos com a frieza de Londres, sentimos o cheiro da rica culinária de Antônio, nos apaixonamos por todos os personagens. O filme começa em pleno inverno, com calçadas branquinhas de neve, e vai esquentando ao longo da trama. Tudo o que foi construído no começo passa a ser descontruído com aquela beleza do amor/tragédia italiana. Emma vai se descobrindo na medida em que sua história original é resgatada, ao mesmo tempo, sua vida vai passar por processos nada fáceis. Somente quem é puramente amor poderia tomar as decisões tomadas. E, de quebra, rapidamente várias surpresas no final não deixam o filme com pontas soltas.

Talvez minha única queixa é a existência de um personagem que passou, inclusive, sem falas. O irmão de Edoardo. Ele está ao longo de todo o filme, mas nem no cartaz aparece. No restante, é um filme lindo e que vale a pena de se comprar assim que achar nas prateleiras. Um filme italiano daquele que estávamos com saudade!

Ósculos e amplexos!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

"Melancolia", 2011: poético e fascinante fim do mundo.



Melancolia (Melancholia) Dinamarca / Suécia / França / Alemanha , 2011 - 136 minutos Drama / Ficção científica Direção: Lars Von Trier Roteiro: Lars Von Trier Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Alexander Skarsgaard, John Hurt, Stellan Skarsgaard, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling



Apesar de um pouco zonzo com as tomadas de câmera na mão e muita intervenção ao som de Tristão e Izolda, de Wagner, confesso que saí do cinema irritado com o filme. Mas, poucos minutos após sair, caminhando pela cidade, pude compreender a beleza de um dos melhores e mais polêmicos diretores da atualidade. Lars Von Trier, ao mesmo tempo que é infeliz ao fazer declarações nas coletivas envolvendo Hitler e judeus, é por demais feliz em suas obras. E, para quem não estiver com espírito preparado para assistir mais uma obra do depressivo diretor certamente terá uma desagradável surpresa.



O filme, de uma maneira geral, é uma pintura de uma catástrofe anunciada. Igualmente a uma ópera, porém com uma fotografia exuberantemente linda, teremos duas longas versões melancólicas de uma catástrofe inevitável. Após ver uma série de imagens onde mostra uma noiva angustiada querendo fugir e o planeta Terra sendo engolido por outro consideravelmente maior, o filme começa de fato e seguira em duas partes. Na primeira, a história acontece ao redor de Justine (Dunst). De maneira muito bonitinha e alegre, temos uma limosine incapaz de levar o casal apaixonado ao seu casamento por não conseguir fazer uma curva. Do momento em que chegam ao local da festa de casamento em diante, o que temos é um festival de tristezas e muita, mas muita ironia de Lars Von Trier. (Infelizmente, não poso adiantar muita coisa - evitando Spoilers). A segunda parte, por sua vez, passa-se ao redor da angústia da outra irmã, Claire (Gainsbourg). Ela tem conhecimento da aproximação do planeta Melancolia e teme pelo pior.



Desde o começo sabemos o que vai acontecer. Porém, a beleza de como cada coisa é apresentada é de se encher os olhos. Seja pelo nu azulado de Justine, seja pela convincente interpretação de cada um dos atores e atrizes. Cada qual com uma beleza ímpar. Tanta coisa bela caminha junto com o abismo depressivo de Von Trier. Para ele, o fim do mundo é assim, sem esperança, sem grandes acontecimentos previstos ou revelados, sem nem menos pena da humanidade. Para ele "a humanidade não fará falta".



Não se trata de um filme fácil de se assistir, mas consideravelmente possível se comparado à outras obras de Lars Von Trier. Um poético e fascinante fim do mundo, do nosso universo particular e de nosso universo intangível.


Ósculos e amplexos!

"Professora Sem Classe", 2011: não faz rir, além de ser patético.



"Professora Sem Classe" (Bad Teacher) EUA - 92 min. Comédia Direção: Jake Kasdan Roteiro: Gene Stupnitsky, Lee Eisenberg Elenco: Cameron Diaz, Jason Segel, Justin Timberlake, Lucy Punch, Phyllis Smith, John Michael Higgins, Kaitlyn Dever, Matthew J. Evans



Sim, há algumas cenas de "Professora Sem Classe" que são de uma estética interessantíssima. Mas dependem de puros fetiches do espectador. O filme tem problema de tempo, as piadas são fracas, o enredo muito caricato, e o pior, os atores e atrizes não convencem.



"Professora Sem Classe" igualmente ao péssimo trocadilho que seu título recebeu no Brasil é a tentativa de se fazer uma comédia insana com elementos comuns no cotidiano escolar. Conta a história de Elizabeth (Diaz), professora por profissão e mau-caráter por estilo. Detesta o emprego que possui, considera seus colegas de trabalho um bando de imbecis e não dá a mínima para a educação de seus alunos. Ser professora é um embuste para aparentar ser boa moça para os ricaços que lhe poderão promover o sonho dourado. Porém, culpando seus seios medianos por ter sido desmascarada em seu último noivado, faz de tudo para juntar dez mil dólares e assim poder comprar suas próteses (para agarrar outro ricaço). Em meio a sua tediosa vida regada à bebidas, drogas e muita ressaca na hora da aula, conhece o bonitão e herdeiro de uma famosa marca de relógios - e que ninguém explicar por qual motivo ele é também professor - Scott (Timberlake). Daí por diante, dá-lhe cenas e mais cenas de situações sensuais com a lourona e pouquíssimos argumentos inteligentes.



O filme tem um desafio duplo: ser sensualmente incorreto ao mesmo tempo formatado para um público maior de 14 anos de idade. Não daria outro resultado senão um sucesso de bilheteria, principalmente para o público adolescente, mas desagradável para públicos um pouco mais exigentes. Uma ou outra piada inteligente no meio de um montão de piadas grosseiras não é o maior problema. Terrível é suportar uma série de grosseirias expostas de maneira frágil, com personagens pouco convincentes e que vão se tornando cada vez mais caricatos ao longo do filme.



Seus noventa e dois minutos de duração se arrastam, fazem parecer três horas. Há três viradas muito mal contadas ao longo da história. E a redenção da anti-heroína realmente é patética.



Por fetiche, por pouquíssimo humor inteligente, o filme não compensa. Sabe-se lá o motivo de ter obtido tamanho sucesso em bilheteria.



Ósculos e amplexos!